31.1.07

P.175: ... e nasceu o fruto...!


30.1.07

P.174: As melhores cidades...!


Deitei o sobrescrito ao lixo sem o abrir… Às vezes, confesso, acontece-me fazê-lo, quando o tempo é pouco e o lixo muito, na caixa do correio. Era uma carta da Câmara Municipal e, geralmente, daí só vem propaganda mascarada de informação ao caro munícipe. Irrita-me tanto ver o dinheiro gasto com estas pseudo-comunicações que raramente lhes concedo mais do que uma leitura oblíqua e um rasgão decidido, de preferência dividindo a meio as lunetas do senhor-semp’eterno-presidente, que faz questão de aparecer o mais possível, com o seu sorriso imberbe de sempre, agora inchado da idade e da importância!
Soube depois, por acaso, do que se tratava. Claro que o assunto foi muito comentado entre nós. Pois não havia o Jornal Expresso colocado a nossa cidade num muitíssimo lisonjeiro 7º lugar entre as melhores cidades para se viver em Portugal, em 2007?!... À Câmara, claro, caiu-lhe como ginjas e vai de fotocopiar e distribuir ao pessoal o ilustre documento, para que vejam no conceituado jornal aquilo que não conseguem perceber no dia a dia…!
O estudo de uns poucos jornalistas, com aconselhamento de dois arquitectos e uma geógrafa, vale, principalmente, por ser, como penso que é, coisa inédita. Os critérios de análise parecem bastante ponderados e bem escolhidos, mas que estratégias foram usadas na sua medição? Poderá quem não vive o quotidiano de um meio avaliar, por exemplo, a “governança e cidadania” ou, até mesmo, a “fluidez do tráfego”? E depois, quando se conhecem bem duas cidades, há dúvidas que surgem. Por aqui, a comida é muito importante e há restaurantes em grande número e para todos os gostos. Já na cidade do Porto, onde também me acontece estar com frequência, quando toca a comer ruma-se mais a Matosinhos, logo ali ao lado, para mais variedade de escolha… No entanto, o estudo dá 10 pontos de avanço à cidade Invicta neste domínio!... E se a avaliação se reportar à qualidade, só se o Porto se distinguir pelo peixe, porque para vitela assada e bifes do lombo, vão-me desculpar, mas a vantagem fica atrás destes montes!!
Bairrismos à parte, tenho a dizer que o lugar é honroso, embora, sendo a esmola grande, o pobre desconfie…!

29.1.07

P.173: Sorriso...


Esta, e outras como esta, não lhes deixaram margem pra dúvida. Ela que anda a fotografar, a prof?! A erva e as couves…! Já não bastava “obrigá-los” a ler Fernando Pessoa, ainda me perdia em contemplações dos verdes do caminho…! Será que os profs já nascem assim, ou dá-lhes só depois…?!

27.1.07

P.172: O sabor das palavras


Na minha família as palavras são muitas vezes tema. Digamos que, em certo sentido, temos espontaneamente e sem objectivos definidos, uma tendência metalinguística, querendo com o “palavrão” apenas dizer que com a linguagem reflectimos sobre a própria linguagem. Três gerações bem vincadas em convívio e gente ligada às letras, é nisto que dá!
Muitas vezes a reflexão anda à volta do uso e desuso de certas palavras e expressões, de preferências vocabulares, de estranhezas, de enganos, e do cenário de “crise” lexical em que mergulhamos nestes novos tempos. No fundo, olhares de cada um sobre o linguajar dos outros.
As exclamações “pantoija!” e “lorpa!” ou a interjeição de contrariedade “moca!”, abrem, num sorriso, a recordação de uma avó querida…! E quando menos esperamos, estamos a reflectir sobre o futuro da nossa língua a propósito da estranheza de uma irmã, residente um pouco mais a sul, quando a minha mãe solta a proposta: “Íeis… e vínheis…”! Esta, confesso, deu pano para mangas e valeu-nos logo uma “lição” sobre o inqualificável desconhecimento por parte de gente “responsável” da forma, também na 2ª pessoa do plural, mas no Imperativo, “vades”… De facto, “vades”, mãe, ninguém diz…!
Ao desuso, que causa estranheza, junta-se a “preguiça” sulista, que vem por aí acima e só se deterá quando nos tiver reduzido a conjugação a 5 pessoas: os vós serão todos reduzidos a vocês, à 3ª pessoa, para grande satisfação de quem se relaciona mal com os verbos…! E o remédio é seguir, porque a língua é um mar vivo, indomável, e não há dique que trave a sua fúria de mudança!
Em muitos momentos de acesa conversa, a geração mais nova desliga-se com um “tásse bem”, próprio de quem está por tudo e só se empenhará em duelos de palavras se, em fundo, existir uma batida de hip-hop. Não sem lembrar, uma vez mais e com ar de gozo, que deve ser por esse estranho hábito da avó dizer íeis, vínheis e vades que chama também, estranhamente, “as truces” aos seus boxers e “os chicletes” às chicletes que às vezes lhes caem do bolso!!... Mas a verdade, ó terceira geração, é que se a avó não “cata a vossa cena” é talvez porque vos falta o complemento circunstancial de modo, quando afirmais convictos: Está tudo, avó! Está tudo!...
Por obra e graça da entrada de “estrangeiros” na família, certos regionalismos passaram também para a ordem do dia. Mas só realmente um assunto cala, por completo, uma das partes: a informática, a Internet, os links, as janelas, os downloads… e tutti quanti! Não posso permitir que assim seja! Tenho que introduzir a minha mãe neste mundo de conceitos importados e de palavras correspondentes… Veremos se a missão é possível… Oxalá!

26.1.07

P.171: Sobre o medo

Palavra em jogo no Fotodicionário.
Velho companheiro do homem, o medo quase se confunde com a consciência da vida e da morte. Firma-se nas fragilidades, nas estranhezas, no desconhecimento… Domina-se ou domina-nos, mas faz parte de qualquer existência inteira.
O medo em si não se fotografa, mas podem registar-se os seus reflexos visíveis ou sugestões das suas causas.

A fotografia que escolhi é, para mim, plurissignificativa. Em certa medida os castelos são vestígios arquitectónicos do medo. O seu desenho é defensivo, a sua solidez protectora; a torre um último reduto e o fosso a separação entre os dois medos: o de atacantes e o de atacados... Ou alguém duvida que a fúria guerreira se faz, também, de um medo visceral? Muitas vezes a torre serviu de cárcere e muitos aí temeram não mais ver o mundo!

Esta é também a fotografia de uma frágil travessia suspensa: há um e um diferentes; há a passagem precária entre os dois e a possibilidade de uma vertigem…

Mas é tempo de esquecer o medo e pensar precisamente no tempo, próximo desafio…

25.1.07

P.170: Não siga o conselho da vizinha!

Mel Gibson dificilmente me arrastará de novo ao cinema. A última tentativa, «Apocalypto», foi de facto apocalíptica para a minha tolerância do tipo como argumentista/realizador.
Na sinopse, o meu logro: Em pleno século XVI, a colonização espanhola da América Central está em pleno desenvolvimento e com ela a civilização Maia caminha para o desaparecimento. No meio deste processo um homem, um Maia, procura preservar a sua cultura...
A verdade é um filme que não retrata nem a civilização Maia, de que mostra unicamente um breve e caricatural arremedo, muito menos a colonização espanhola, sugerida numa única cena final.
A verdade é um filme extenuante e sanguinário, feito de fugas e encontros com uma violência gratuita e pormenorizadamente mostrada, para contemplação e gozo dos amantes dos corações arrancados e pulsantes, dos corpos retalhados, das decepações rituais, do sangue nas mãos e no corpo e em tudo… até se nos toldar de vermelho o olhar e desistirmos daquela ideia única...!
(imagem googleada)

24.1.07

P.169: Centenário_I (3)



PLANALTO
Alto céu, alta luz, alta pureza.
Ascensão da granítica aspereza
Dos homens e do chão.
Guiada pela mão
Da fome insatisfeita,
A teimosa charrua da vontade
Lavra e semeia as fragas da planura.
Mas a grande colheita
É de serenidade:
A paz azul em cada criatura.


Miguel Torga

20.1.07

P.168: Viagens no tempo

As viagens no tempo são das melhores que podemos empreender. Não digo as melhores, por falta de certeza ainda, mas das melhores, afirmo-o com toda a segurança.

As visões do futuro que a ficção científica nos vai propondo, são tão frias e mecânicas, que não me despertam vontades de antecipação, antes me aconchegam ao presente conformado com a progressão que o tempo destinado me conceder…

Mas em direcção ao passado sempre viajei muito! Quando ao romance lido ou ao conhecimento da História se associava uma visita ao lugar, ouro sobre azul! (Imaginam uma miúda de 16 anos, a visitar a Galeria dos Espelhos, em Versalhes, sentindo-se entre as favoritas do Rei Sol?! :-) Já me aconteceu…!)


Bom, no momento, releio Mensagem, de Fernando Pessoa. E a propósito recordo as minhas idas a Marrocos. A desilusão de Ceuta, apesar de alguns vestígios. A visita à Fortaleza de Fez onde, supostamente, o nosso desafortunado Infante D. Fernando, abandonado por todos, pagou com a vida o não honrado compromisso português. E a procura inglória de Alcácer Quibir, que, na altura, ninguém me soube indicar, mas que, vejo agora, na mágica aproximação do Google Earth, tem direito ainda a figurar no mapa! Ficará para uma próxima viagem no tempo, nem que o nevoeiro seja só uma nuvem de pó, num terreno árido que só para mim se revele encantado…!

D. Sebastião, Rei de Portugal

Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza:
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?

Fernando Pessoa

Duvido muito do merecimento do nosso jovem rei louco. Mas quem não quereria cumprir um destino fatal só para merecer um poema assim…?!

19.1.07

P.167: Música

Propõe uma das companheiras de jogo do Fotodicionário que façamos eco, nos nossos blogues respectivos, do processo mental que nos conduziu à fotografia com que participamos. E assim:


A adolescência/juventude é um período musical por excelência. Quando a proposta da palavra Música surgiu, achei que podia fazer qualquer coisa com os meus velhos LPs – os tais a que o meu filho chamou um dia CDs grandes…! Tanto mais que as recordações acordaram no serão de Passagem de Ano, com uma sessão prolongada de “a ver se se lembram disto…! / Eh pá! Não posso crer…! Há quanto tempo…! Sabem como é.
Fiz três ou quatro fotografias e, passadas para o computador, o efeito de “manta de retalho” que resultou desta agradou-me bastante. Estava feita a escolha.
São verdadeiros retalhos, de facto: retalhos de música, retalhos de tempo de ouvir, retalhos de tempo de dançar, retalhos de partilhas, retalhos das vidas cruzadas. Retalhos com história, com memória. Retalhos gastos. Nestes retalhos figuram o disco emprestado que nunca devolvi, disco(s) herdado(s), com dedicatória, discos assinados com letra infantil e a relíquia da primeira compra musical, aos 12 anos! Durante um tempo, largo tempo, foi disco único! :-) Como não haveria de gastar-se?! Aceitam-se palpites sobre o título…!

18.1.07

P.166: Sentinelas


No fim de tarde calmo,
Belas, assimétricas,
Misteriosas sentinelas,
Guardam o azul...

17.1.07

P.165: Centenário_I (2)

Há muito quem pense que Miguel Torga cantou só a terra, e só a terra transmontana e duriense! Ainda que assim fora, mas não!



S. Pedro de Moel, 22 de Agosto de 1985

OCEANO
Poema sem sossego e sem remate,
Harpejo horizontal do coração do mundo,
Há quantos anos já que te recito
Obsessivamente,
A medir cada verso
Em cada onda!
E nunca te entendi!
És um mistério cósmico e sagrado.
Um mistério que logo pressenti
Quando pela primeira vez te vi,
Maravilhado,
A marginar um Portugal sonhado,
Tão perto e tão distante,
Sempre no mesmo instante
Morto e ressuscitado.

Diário XIV

Centenário_I (1)

15.1.07

P.164: História e histórias

Não é a minha especialidade e sou pouco mais que leiga na matéria. Isto sem nenhuma falsa modéstia. Mas gosto. Falo de História.
O meu interesse manifesta-se numa atenção especial quando se discutem assuntos históricos, no gosto e, às vezes, até na emoção, quando visito certos lugares, em algumas leituras, de preferência romanceadas, e em filmes.
Mas, com muita pena minha, raramente consigo encontrar com quem falar de assuntos de História!
A minha mãe peca por excesso! Sabe muito e adora explicar. Por isso, qualquer pergunta dá direito a várias horas de exposições encadeadas, das quais é dificílimo escapar!
Os colegas professores que são da especialidade padecem do problema a que chamo “excesso de responsabilidade” (provavelmente eu sofrerei do mesmo na minha área…), ou seja, não são capazes de uma resposta simples, ainda que assumidamente simplificadora, a uma questão, por mais básica que ela seja! E não há pachorra!
Os restantes, pautam-se por uma tão grande ignorância e desinteresse, que não há diálogo possível.
A excepção, às vezes, são os guias dos monumentos históricos, desde que não esqueçamos esta regra primordial: perguntar apenas aquilo que estiver em ligação directa, estreita, com a História do local… Qualquer pergunta fora do âmbito da lição estudada obrigar-nos-á a carregar o letreiro de “turista chato que tem a mania que sabe e pergunta só p’ra s’armar!”
Conversa descontraída e boa sobre História, só mesmo com o C.. Mas ele acaba invariavelmente por me perguntar sobre os vários tipos de cruzes e sobre as Ordens Religiosas em Portugal e eu nunca tenho a lição preparada!… E ficamos assim, até à próxima visita, a próxima cruz, a próxima dúvida…
(Vem tudo isto a propósito de uma recente visita ao Palácio dos Duques de Bragança, em Guimarães, onde foram tiradas as fotografias. Aqui, passa-se uma coisa engraçada: talvez por falta de meios, por questões de afluência, de gestão..., não há visita guiada. Isto foi-nos logo dito previamente, para que não restassem dúvidas. No entanto, alguém faz um enquadramento que, não sei se em virtude do meu visível interesse, durou uma boa meia hora... Depois, durante a visita "sem guia", alguém, um outro funcionário, seguiu-nos todo o tempo e, em cada sala, com indisfarçado entusiasmo, explicou, mostrou, chamou a atenção, reteve-nos mais alguns minutos...! Afinal, porque "não podia haver visita guiada" se a houve?! Mecanismos do IPAR ou do Diabo por ele, que não devem ser para nós, simples turistas, entendermos!)

14.1.07

P.163: CURTAS mas não muito grossas!

(Sobre notícias do dia)

: Casa cheia para Amadeo de Souza-Cardoso, muitas palmas e solicitações para bisar…! Estaremos, finalmente, a ganhar bom gosto?!

: Cintura fina, é o que os homens preferem no corpo feminino!...
E a pergunta repete-se: estarão os homens, finalmente, a ganhar bom gosto?! :-)

: Ainda há quem nos chame imperialistas!! Estão lá p’rá Índia e são muito poucos…, mas já viram bem a graça que tem um Império balouçando na cauda da Europa…?!

13.1.07

P.162: Postais ilustrados

Não fora pelas viagens da minha mãe e pela teimosia epistolar da minha tia, irmãs que são também no gosto de escrever, e a minha caixa do correio – a física, aquela que tem ranhura e porta e fica ao fundo da escada –, seria um triste caixote de lixo publicitário, acrescido dos enfadonhos envelopes institucionais das contas para pagar!...

Assim, por obra principalmente da segunda, que vive longe de nós, lá me vão chegando coloridos postais da nossa bela capital, do Algarve, da Serra da Estrela e de mais uma ou outra civilizada cidade europeia que o meu tio, sempre cuidadoso, lhe permite visitar. Ou então, postais com quadros de pintores famosos. E quando não é a cor da ilustração é o texto que é registado em tons variados e alegres, numa caligrafia a que chamo à anos 60… :-) ornada, uma vez por outra, com uma florzinha à Mary Quant.


Os da minha mãe são diferentes. Vêm de paragens mais longínquas e, como geralmente chegam depois dela, ficam apenas como testemunho da sua passagem pelos locais.

A mensagem é geralmente muito simples e reduz-se, no fundo, a dizer-nos que fomos lembrados. Que mais, se há meios tão rápidos e eficazes de dizer tudo o resto?

Mas o postal ilustrado tem o valor da escolha, o trabalho da escrita, da compra do selo, da ida ao correio ou ao marco. Tem ainda o valor da tradição, que era bonita!

10.1.07

P.161: A propósito de Volver

Mais um de Almodóvar que vejo com prazer.
Há uma música no filme tocada pelos sonoros, profusos e excessivos beijos das mulheres. Há um mundo estreito, louco, humano, extremo que vejo pulsar com uma sensação ibérica de pertença…! Há humor e tragédia e surpresa e ridículo e sublime, como na vida.
(Paguei mais 50 cêntimos para o ver num cinema sem o cheiro, a ruminação e o lixo das pipocas… )
Valeu a pena!

9.1.07

P.160: Só porque gosto


Ali está a cidade
Trémulos olhos da noite
Toda em cimento se ergue
À tona dos desperdícios
Sob um arco luminoso
Como um monstro incandescente
Faz-se de bela deitada
Espapaçada na lama

Ali está a cidade
Rosto de sonos inquietos
Estremunhada nas sombras
Em contra-luz rarefeita
Finge-se um anjo da guarda
Que se espreguiça felino
Por fora assenta o colosso
Em carne e osso por dentro

Ali está a cidade
Mão de mil dedos acesos
Que acariciam diáfanos
O corpo dos inocentes
Abre perversa o regaço
À imagem de um paraíso
E aconchegou-se mais bela
E abandonei-me por ela

Mas sobretudo a cidade
É um som
Toca uma música boa
Pra que eu me esqueça da alma ausente
Que se perdeu pelas ruas
Que eu não me perca também

Ali está a cidade...

:: FAUSTO

(Fotografia de Carlos Sampaio)


7.1.07

P.159: Centenário_I (1)






12 de Agosto de 1907.
17 de Janeiro de 1995.




Entre uma e outra data, a vida de um negrilho-homem, de raízes fortes e ramos altos, daqueles de ver longe, seiva fervilhante de vida viva, muitas vezes incómoda, não menos inconformada com a estreiteza de alguma incompreensão.
Entre uma e outra data, a procura do irmão homem, mesmo na noite solitária e nos dias do avesso de si… Uma fraternidade imensa e delicada, por trás do ar rude, carrancudo.
Entre uma e outra data, os chamamentos do Deus calado e ausente, pedidos, lamentos… até ao grito, frustrado, do abandonado que abandona a espera!
Entre uma e outra data, a pátria, o Portugal das gentes simples, do verdadeiro, das raízes… o país palmilhado, porque é na geografia e na história de cada terra que o homem é inteiro, genuíno.
Entre uma e outra data, Miguel Torga.

IDENTIFICAÇÃO

Desta terra sou feito.
Fragas são os meus ossos,
Húmus a minha carne.
Tenho rugas na alma
E correm-me nas veias
Rios impetuosos.
Dou poemas agrestes,
E fico também longe
No mapa da nação.
Longe e fora de mão...

Diário XV

. __________ .

(Durante este ano, pequena homenagem, é minha intenção publicar alguns poemas e excertos escolhidos de obras do autor.

Fotografia de Torga digitalizada a partir da sua «Fotobiografia»)

5.1.07

P.158: Milagres da Internet

Este é Saint Patern, um dos santos fundadores da Bretanha, e é um dos meus “troféus” cá de casa, leia-se bibelots trazidos de viagens.
Mas por muito milagreiro que tenha sido, e não sei se o era, não é deste santo que vos quero falar, antes de um outro, bem mais dos nossos tempos e de milagres comprovados: o santo Google! Os seus milagres são, principalmente, tirar dúvidas aos mais ou menos crentes e a sua acção tão eficaz que demora apenas alguns segundos entre o pedido e o milagre do esclarecimento!

Já não é de hoje a vontade de falar sobre esta questão da informação fácil. Excelente modernidade que nos abre a possibilidade de quase tudo saber, nos poupa tempo, nos mostra o mundo! Como professora do antes e da contemporaneidade da Internet, foi preciso mudar estratégias e ver o mérito deslocar-se da procura para a selecção, compreensão, assimilação.
Foi precisamente a nível profissional que comecei a perceber o paradoxo desta sociedade aparentemente hiperinformada. A enorme quantidade de informação e a extrema facilidade de lhe aceder não está a criar gente mais informada, pela simples razão de que cria preguiça. Falo em termos gerais, naturalmente, e de impressões minhas sobre tendências.

Para além desta vertente mais séria, há um aspecto engraçado, até um pouco burlesco, e que foi ventilado recentemente no blogue umaetrintaesete. Trata-se das pesquisas em motores de busca que vêm parar aos nossos blogues e que nós podemos “controlar” tendo um programa de registo de visitas, como é, no caso do Charlas, o sitemeter. Nem imaginam o que cá vem parar às vezes…! Para terem uma ideia de uma busca recente que me fez soltar uma gargalhada, tenham em conta uma palavra de português vernáculo que utilizei neste post… e depois imaginem o resto…
Mas há também quem venha à procura de coisas sérias, escritores ou músicos a que fiz referência, terras, “charlas”, a arte do “googlegrama” sobre que falei em Janeiro de 2005… tudo coisas que eu trato com a superficialidade da conversa despretensiosa que pretendo travar neste espaço pessoal. Pergunto-me se as pessoas que buscam vão daqui satisfeitas com o que levam… E ponho-me a imaginar esses milhares de sítios onde, com toda a liberdade, podemos afirmar o que nos dá na real gana…

Já vai longa a charla! Digam agora vocês!
P.S. - Já depois de publicar este texto, numa consulta no sitemeter, vi que alguém, do Brasil, às 17h57, entrou no meu blogue para se informar sobre “Bill Clinton e o caso da empregada”. Segue-se, sem mais comentários, a comprovativa imagem de print screen... :-)



4.1.07

P.157: Nota dissonante


no optimismo dos dias...

Soou hoje, como podia soar em qualquer momento. (Há um tempo para cada coisa, embora não saibamos sempre quanto e qual)
Porque não sou dos que seguem sempre contentes, sem uma lembrança sobre os que escolhem ficar para trás na minha vida.
E tenho a grande felicidade, a que alguns chamam segurança, de o reconhecer, para os outros tanto como para mim própria.
Bye, bye, camarada!
Be happy!
:-)
(Para identificar a origem, clicar na imagem)

3.1.07

P.156: Manhã


É um nevoeiro ciumento. Envolve tudo, cerra-se, impenetrável, para que mais ninguém beije a terra.
Lá em cima, um sol tão enfraquecido quanto apetecido procura uma aberta. Mas há dias em que o manto é tão espesso e o abraço tão apertado e frio que nada o desfaz... Será?...
Espreita-se a manhã, reforça-se o agasalho. Vai ser mais um daqueles dias...

2.1.07

P.155: Marginalidades

Surpresa!

Às vezes tenho mesmo a sensação de que sou de uma ingenuidade que não se admite! E fico triste, até um pouco envergonhada pela minha ignorância, por não me passarem pela cabeça coisas que, provavelmente, muitos saberão!

Então os jogadores de futebol, esses assalariados das arábias, não pagavam impostos sobre a totalidade dos rendimentos?!! Assim mesmo, legalmente, previsto, concedido…?!! Gente que ganha no mês o que muitos não ganham a vida inteira…?!! E tanta gente sabia e ninguém dizia nada…?!!
E que mais pode um cidadão fazer perante isto, senão soltar um palavrão sonoro...?!... Depois dizem-nos mal educados! Pudera!

P.154: Minimalismos da estação