30.12.06

P.153: Balanço

O melhor balanço do ano é não termos tempo, nem vontade, de fazer balanços... A indisponibilidade para fazer as contas do deve-haver da vida em 12 meses, é sinal quase certo de saldo positivo! :-)
E é firmada nesse optimismo que desejo a todos um BOM 2007!
(Sorriam, mesmo quando não estiverem a ser filmados...! ;-) )

28.12.06

P. 152: Outras distâncias...

em mapas antigos, aumentadas pela lupa da minha mãe...

que crescem com o alinhamento das vinhas e com o calor que aperta, na vindima...
(Douro)

que nos condenam à proximidade ou ao afastamento...

(Miranda do Douro)

do mistério deste talvez santuário aos longes enevoados...

(Vila Nova de Cerveira)

muitas vezes percorridas...!

(Parque Natural do Alvão)

26.12.06

P.151: Crónica de uma arquitectura doente

Nas duas salas pequenas e sobreaquecidas acotovela-se gente, muita, atacada de diversos males. Mãos na cabeça ou na barriga, tosses, espirros, alguns gemidos disfarçados, choros, vómitos de crianças e cheiros de fraldas sujas, tudo na intimidade forçada de um espaço exíguo. Um dos compartimentos é escuro, interior; o outro iluminado, com grandes vidros de janelas que não abrem.
Acomodo-me na cadeira azul forte, do lado iluminado. As instalações são novas, de paredes brancas, madeiras claras, mobiliário colorido, ar condicionado. Mas as condições são más. Se o espaço é pequeno, muito aquecido, sem arejamento e se destina a muita gente doente, parece-me a mim que os únicos beneficiados são os vírus que cada um transporta, com perigo de contaminação dos restantes. Mexo-me, na cadeira, um pouco inquieta já não pelo mal que aqui me traz, mas pelos que poderei daqui levar… É um serviço de urgência.
Espero um pouco mais de uma hora. Dentro, onde uma médica me atende sem nunca me olhar e com uma comunicação monossilábica mínima, respira-se melhor.

E, com menos aquecimento e acabamentos menos modernos, é assim também o Centro de Saúde que frequento, onde as salas de espera são interiores, os gabinetes dos médicos pequenas celas de condenados, onde crescem cogumelos na humidade dos chãos e paredes, e onde os corredores de acesso e gabinetes de enfermagem são impraticáveis para utentes em cadeira de rodas, para enumerar só alguns dos seus defeitos visíveis! Foi construído há uma dúzia de anos…

Quem serão os responsáveis pela concepção destes espaços?! Que orientações técnicas recebem?! Quem lhes aprova os projectos?!!... Como dizia há muitos anos um homem do povo, a propósito de casos semelhantes, numa carta saborosa e cheia de sabedoria que enviou ao meu pai, são mentes invadidas pela neblina...! É isso mesmo, sr. Presidente da Junta. Eu direi mesmo que há por aí muita gente a sofrer de nevoeiro mental cerrado!

24.12.06

P.150: Natal

Com mar... porque para tudo há uma primeira vez...!


(Esta não estava cá neste dia; pu-la depois, com a data em que foi tirada).

23.12.06

P.149: Azul noite


Dos dias, gosto especialmente das noites e das manhãs.
As tardes são aquele período intermédio de maior preguiça e menor poesia.
Esta noite, mágica, deixou que a minha máquina registasse um azul que os olhos não viam!
Boa consoada!
Façamos por que o Natal seja bom, porque de nada adianta que nos acrescentemos à miséria!
.

22.12.06

P.148: Feira de Natal

A época é de Natal, em princípio pacífica e solidária. Mas os hábitos das pessoas vão num sentido tal, que tornam a vida nestes dias num inferno para todos! Circular de carro em certas zonas dos centros urbanos é agora ainda mais difícil, fazer um simples abastecimento de víveres para a semana pode tornar-se num teste à paciência! A crise talvez tenha reduzido o volume e o custo das compras, mas não diminuiu a azáfama. Até talvez tenha tido o efeito perverso de obrigar a muitas procuras, para fazer coincidir o presente “ideal” com o preço que é possível pagar. A observação dos clientes numa grande loja, mal olhando os produtos antes de verificar o preço, fez-me lembrar os tempos jovens em que as saídas para jantar fora implicavam conferir na ementa, não os pratos, mas os preços, ou pelo menos estes antes daqueles! :-)
Ter saudades dos Natais da infância é comum a quase todos nós e muito natural. Mas não é só a magia, a família maior e a tradição mais pura que recordo. É sobretudo a paz e a alegria sem histerismos que se vivia. Nem as antecedências decorativas de hoje, nem a profusão de enfeites, nem os atropelos de gente. Abundantes só mesmo as terrinas das rabanadas, as travessas de aletria, de creme e de arroz doce e as fritinhas de calondro que haviam de durar quase até ao Ano Novo e que todos, novos e velhos, comíamos despreocupadamente, sem cuidar de quantidades nem de calorias!

20.12.06

P.147: Objectos desusados


Azulejos destes, com decoração naïve e cores mais ou menos tradicionais, com dizeres simples e ao gosto popular, eram frequentemente elementos decorativos nos lares portugueses. O mais comum, que me lembre, era o «Seja bem-vindo, quem vier por bem». Em miúda achava-os parolos. Hoje, que me parecem em vias de extinção, acho-os engraçados!

A mensagem deste, uma relíquia familiar que conservo com gosto por a moldura ter sido cinzelada por um tio avô, condiz bem com o que foi objectivo de vida do seu autor e da sua mulher. Tempos difíceis. Poupanças diárias, ao tostão, e muito trabalho, para construírem a tal casa que veio a ser mais mundo dela do que dos dois, mas que antes de ser morada foi sonho de ambos. Vinham longe, ainda, os tempos de comprar hipotecando o futuro. E por isso foi ao próprio corpo, à vida, que foram buscar o crédito para essa vontade. Gente de fibra!

17.12.06

P.146: Eco da imprensa de hoje

Das dez grandes tendências previsíveis para o próximo ano na área das tecnologias da informação, resultado de estudos realizados pela empresa de pesquisa e consultoria Gartner, o Público escolheu duas para apresentar no número de hoje: o fim do boom dos blogues e o passo de gigante, agora começado e com continuação nos próximos cinco anos, a caminho da “localização” de todos nós, população com telemóvel, através da Internet móvel.

Sobre o primeiro assunto, parece que o pico deverá ainda ser atingido no primeiro semestre de 2007, é nessa altura que o número de bloggers ascenderá aos 100 milhões! Depois, razões que por certo já todos nós, que andamos por aqui, constatámos, deverão ditar um número crescente de abandonos: preguiça, desinteresse, mudanças de vida, mudanças para outros sítios, respostas a novos desafios. E, dessa forma, vão ficando por aí, poluindo também este espaço, milhares de páginas "sozinhas", à deriva…
Mas é a segunda tendência a que mais me preocupa. 60% da população mundial que possua um telemóvel será localizável!... (Desconfiadamente, ainda não é dos tais, mas enfim... olhei o bicharoco dos contactos). Será muito vantajoso no controlo do banditismo e do terrorismo, dizem. Pois talvez. Mas se há males que vêm por bem, há bens que vêm por mal. Digo eu, que não tenciono cometer atentados e por certo também estarei sempre localizável…!

16.12.06

P.145: Constatação


Era um hábito, talvez só de cidade de província. No bom tempo, depois dos mil e um afazeres da casa, vinha-se até à varanda, apanhar ar, um pouco de frescura, conversar e ver quem passava! Era coisa de mulheres. Os homens, se vinham, não tardavam e preferiam fazer a mesmíssima coisa caminhando em grupos pelas ruas, estacando a espaços, e obrigando os demais a esperas, para com maior veemência de gestos sublinharem a importância do narrado!
Na família chegámos a ser quatro gerações de mulheres assim empoleiradas sobre a rua, no coração da cidade. Falava-se de tudo, do mais fútil comentário sobre a vida de fulano, à mais séria e útil lição de vida. No tempo da bisavó, que morreu com noventa e cinco anos e só foi à cama poucos meses antes de partir, era certo e sabido que tínhamos comentário à velhice de sicrana e admiração por beltrano ainda estar vivo! Tudo raparigas e rapazes do tempo dela, alguns bons anos mais novos, mas que ela julgava sempre mais velhos e em pior estado… Em dias de procissão, desdobrava-se a bela colcha de seda dourada e deixava-se pender sobre o parapeito e houve vezes até, não muitas, em que me foi confiado o cestinho de pétalas de rosa para atirar.

Depois houve o tempo, menos tempo, de ali alinharmos três gerações. E, quando ficámos só duas, já tínhamos perdido o hábito de ir à varanda!... (Não tinha tomado verdadeiramente consciência desta perda até quinta-feira passada, quando a propósito da palavra curiosidade, em jogo no Fotodicionário, alguém representou a ideia dessa maneira). Razões? De tempo, dos hábitos, da própria cidade transformada…
É mais uma recordação nostálgica.

15.12.06

P.144: Das três às cinco...


Roupas e rapariguinhas do shopping

Vem a gente de um frio de rachar no exterior e, mesmo deixando os agasalhos maiores no carro, mal entra no shopping, começa a suar. Nas lojas a coisa piora.
Passeiam-se os olhos pelas secções com prateleiras de roupas monocromáticas, à procura de qualquer coisa de vestir que nos chame a atenção e logo se percebe que cada modelo existe em tal e tal e tal cor, tudo organizado em parada de rigoroso alinhamento.
Depois, percorrem-se os números e volta-se a olhar em volta, para nos certificarmos de que não fomos inadvertidamente parar à secção de criança. Não! Estamos bem. O nosso número é que se arrisca a ser o último do expositor e vamos com muita sorte se servir… E ainda nada nos cativou verdadeiramente, já estão as meninas, solícitas, cumprindo ordens da gerente, a pôr-se à nossa disposição.
Seguro na mão uma peça de roupa e tenho a meu lado a empregada que se dispõe a segurá-la, tirar o cabide, conduzir-me ao provador. Vejo, de relance a etiqueta com o preço e olho a empregada. Calculo o seu salário e concluo que aquele artigo custará cerca de um terço do que ganha no mês… Três peças daquelas e ficaria a miúda sem cheta! Estranha e angustiante, a sensação…
Mas quem apenas as vir, sem pensar nestas misérias, quem nunca tiver que as confrontar com situações difíceis e quase transcendentes, como por exemplo a de uma troca de produto, que tem que passar pelo sistema informático com tudo a bater certinho, cêntimo por cêntimo (o que consegue pô-las a suar quase tanto como as clientes muito agasalhadas), quem apenas se firmar naquelas elegâncias trabalhadas de corpos magros, de rostos maquilhados, de cabelos penteados, de mãos manicuradas, de olhares altivos, elegâncias pouco vestidas e bem adornadas, não tem dúvidas de que estas rapariguinhas são as verdadeiras rainhas do lugar!

14.12.06

P.143: Luzes da ribalta!

A propósito de mulheres que se sujeitam a exibir publicamente os papéis deploráveis que desempenharam junto de homens públicos, para os encalacrarem, ganharem visibilidade e algo mais que as sustente com luxo, enquanto não serenar o receio de outros homens dispostos a pagar a companhia – foram só três dias de abertura de telejornais! – lembrei o caso Bill Clinton/Mónica Lewinsky. No seu tempo, fui “obrigada” a seguir os confrangedores pormenores confessionais que inequivocamente exibiram, ao meu olhar atónito e desiludido, a pequenez do homem! Não só ele, Clinton, um político razoavelmente bom, figura simpática apesar de todos os apesares, mas todo o homem que, por um broche, não sei se bom se mau, e assento no poder, aceita, sem provavelmente pensar, correr grandes riscos e fazer figuras deploráveis!
Bill Clinton era provavelmente um homem útil – só o ser menos nocivo do que o que está já era bom! – que se perdeu ou perdeu muito por uns minutos de alívio com uma miúda gorda! E, naturalmente, por falta de coragem de afirmar, no país que se quer o mais livre do mundo, o seu direito à privacidade!
Não sei por que mecanismos cheguei a esta recordação pungente! Muitas milhas, não só geográficas, separam o malogrado ex-presidente da mais forte nação do mundo do reizinho impune do Porto que é uma nação! Mas aconteceu. Talvez pelo rosário de “informação” desinteressante que prevejo para os próximos tempos.
Ao menos, que o descuidado dirigente perca alguma da sua descarada fleuma bronca! Dava-se por bem empregue o sacrifício de ver a delambida Carolina sorrindo triste e repetidamente, assinando o seu best seller…!
Obs.: Que me desculpem, os mais susceptíveis, alguma rudeza nas palavras. Há coisas que ou se chamam pelos nomes, ou mais vale não nomear...
...
(Fotografia de Carlos Sampaio)

P.142: Receita para deixar de fumar

Dificuldade: grande - Tempo: vários dias

Ingredientes:

  • 1 maço de cigarros
  • 1 isqueiro
  • 1 calendário
  • 1 caneta verde esperança ou vermelho proibitivo
  • guloseimas a gosto
  • petiscos q. b.

Toma-se a decisão. Abastece-se previamente o frigorífico e o armário das guloseimas.
Compra-se o maço de cigarros e guarda-se junto ao isqueiro, sempre à mão.
Enche-se o dia de actividades e, nos intervalos, petisca-se qualquer coisa ou adoça-se o paladar. Olha-se o maço sem abrir. Suspira-se muito e, antes de ir dormir, marca-se orgulhosamente o dia com uma bolinha de cor no calendário.
Repete-se a dose.

Ao primeiro esquecimento do calendário, está pronto!


Nota: o calendário deve guardar-se em lugar fresco e seco, para recordar a dificuldade da receita.

13.12.06

P.141: Curiosidade(s)


O contraste, singular.

Plural no fora e dentro do espreitar…
Plural nos tempos e nos modos de velar.

12.12.06

P.140: Crónica de um Natal antecipado!

Por razões particulares, o Natal este ano talvez seja diferente. E talvez por isso, deu-me para antecipar reflexões e folhear velhas crónicas conhecidas à procura de passagens que, certo e sabido, me fazem chorar. Não há masoquismo algum nesta procura. Chorar é algo que faço terapeuticamente, com regularidade. E menos custa ainda, se às lágrimas das saudades irreparáveis se vêm juntar este ano algumas de muita alegria!
A verdade é que, à volta das reflexões de certo escritor transmontano sobre a roda que gira e vai fazendo calhar, a cada geração, o tempo de ser lar de acolhimento do Natal familiar (1) , acordei o velho sonho!
A casa é provavelmente velha, é de certeza ampla, simples, confortável. Assim a queremos e a fazemos, a dois, para que seja lar dos nossos, ponto de passagem e de estada, procura de sossego, de descanso e liberdade. Os nossos são a família, em todos os graus de parentesco, mas também os amigos, os que vêm por nós, os que vêm porque falta o dinheiro para ir a outra parte, os madrugadores, os noctívagos, os amantes das caminhadas, os frenéticos, os apáticos. Garantimos uma vista de rio, mais ou menos próximo, roupa de casa lavada e perfumada, sempre algo que comer, ainda que frugal, um bom vinho para engolir a poeira dos caminhos e o espaço, físico e outro, que cada um precisar tomar.
Há uma mesa rectangular, na cozinha, comprida, de bancos corridos, onde cabe sempre mais um. Há um fogo aceso e um calor de gente. Fizeram-se as receitas de uns e de outros, mesmo aquela aletria que só o avô comia, o arroz doce da avó que costuma sobrar na travessa e as menos tradicionais de uma amiga que aproveita a quadra para inovar. É Natal e estamos juntos….
(1) Referência à crónica de Natal Ano Novo, Vida Velha, de A. M. Pires Cabral

11.12.06

P.139: Amostra

Local de trabalho. Sete mulheres em torno da mesa. Fala-se de cansaços, de depressões, de psiquiatras. Três tomam regularmente comprimidos para dormir e duas tomam-nos com frequência. Todas já tomaram calmantes ou anti-depressivos. Há uma que vai fazer o desmame no mês que vem, outra a quem basta ter comprimidos na carteira para usar em SOS. Três casadas. Uma divorciada de longa data. Uma solteira de sempre. Duas em fase de separação. São estas as regulares no psiquiatra. O mesmo, porque a primeira a ser abandonada o indicou à outra. A manhã vai a meio. O trabalho a um terço. O ar em torno da mesa é de normalidade. Não tarda todas estarão de novo no cumprimento da sua função!...

10.12.06

P.138: DIREITOS HUMANOS



Desliguei o computador, cansada dos números e das histórias.
Como todo o humano que sobrevive, divido o ano entre o lembrar e o esquecer, entre saber e ignorar… De que outra forma?
Mas quando se aproxima o dia e é preciso trabalhar sobre a data, encher de coragem e deixar entrar por atacado esse pestilento mundo dos atentados, não há como não desacreditar da condição humana!
Cerro as pálpebras e bailam tristemente nos meus olhos palavras, rostos, casos de miséria e desespero…

9.12.06

P.137: A primeira

Foi a surpresa desta manhã. Quando o céu descobriu um pouco, ela lá estava ao fundo, ainda distante, mas fazendo-se lembrar pelo ar frio, revigorante, que desce os montes e lambe o povoado. Neve.

8.12.06

P.136: Marginando o texto


Li As Pequenas Memórias de José Saramago e, passando por cima da problemática que rodeia estas obras de cariz autobiográfico, como o saber – e raramente se sabe, mesmo quando o autor o diz… – até que ponto há ficção na reconstrução da identidade, registo alguns aspectos que achei curiosos.
O primeiro, e talvez mais surpreendente, é o da capacidade de recordar com nitidez e pormenor factos que ocorreram há mais de oitenta anos! Funcionamento bem intrigante, este da memória humana, que apaga às vezes o tão próximo e tão bem ilumina o longínquo!
Uma outra impressão curiosa que me fica desta leitura é a da identificação. De sexos diferentes, em contextos sociais, económicos, geográficos bem distanciados e com um intervalo de quarenta anos, reconheço e revivo experiências e sentimentos comuns da infância.
São, realmente, pequenas coisas, daquelas que nem lembra lembrar e que, porventura, todos vivemos de uma ou outra maneira.
Uma passagem saborosíssima, porque acordou em mim uma memória semelhante, me tornou consciente do facto e me fez sorrir, foi a da confusão na leitura e pronúncia de palavras.

Na verdade eu também tive os meus toques de dislexia, ou algo que se lhe parecia (…) Por exemplo embirrei que a palavra sacerdote deveria ler-se saquerdote (…) Uma outra que me vinha retorcida (isto são histórias da época da escola primária) era a palavra sacavenense. Além de designar um natural de Sacavém, povoação hoje engolida pelo dragão insaciável em que Lisboa se tornou, era também o nome de um clube de futebol (…) E como a pronunciava eu então? De forma absolutamente chocante que escandalizava quem me ouvia: sacanavense. Ainda recordo o meu alívio quando fui capaz, finalmente, de inverter as posições das mal-educadas sílabas.

No meu caso, as vítimas foram as palavras algures e transeuntes, que aí até aos nove ou dez anos pronunciei, convencida de que lia bem, alugueres e transuentes…! A diferença está em que não as lia em Cartilhas, nem em números do Século, mas em livros de aventuras escritos por Enid Blyton…

7.12.06

P.135: Adivinha!


Um palpite... sobre o que esta imagem representa!...



. ____________________ .

Complemento (em 9.12.06)

Estas subidas a pique, as agulhas, os cumes, novas escarpas, são somente linhas e pontos de um gráfico que registou as visitas a este espaço, no último mês! :-)
Do vale fundo em que se encontrava nos tempos do esquecimento, subiu já alturas consideráveis…
Desculpem um certo ar de comprazimento que esta publicação possa ter. Não rodeio a questão: as visitas agradam-me. Sobretudo se acontecem assim, sem exageros grandes, sem grandes operações de charme.


(Irene, minha única apostadora: desculpa se a solução do enigma é bem menos poética do que a tua proposta…! Fica a riqueza da tua imaginação. Obrigada.)

6.12.06

P.134: Outras maravilhas!

Tenho participado com gosto num jogo de fotografia, simples, aliciante e despreconceituoso em que o divertimento e o desafio consistem em ilustrar com uma fotografia, de própria autoria, uma palavra por semana. As minhas escolhas, leiga que sou em matéria fotográfica, têm privilegiado a alusão, ainda que quase sempre simbólica, não imediata, ao conceito em jogo e a estética da foto, baseada em critérios impressionistas e subjectivos de gosto. Do ponto de vista técnico, a qualidade que conseguir demonstrar será, sem dúvida, acidental, a menos que tenha havido aconselhamento de certo entendido a meu lado… Por vezes a escolha é difícil – hoje em dia fotografa-se tanto e com tanta facilidade! – e obriga-me a pré-selecções e escolhas espinhosas. Foi o caso com a palavra maravilha. A eleita consta aí ao lado, no espaço da barra lateral consagrado ao Fotodicionário, mas as quatro que se seguem foram finalistas e ficaram sorrindo amareladamente quando se viram relegadas... :-) Hoje faço-lhes justiça, dou-lhes algum protagonismo. São outras maravilhas!

As cores e a garridice da Ribeira do Porto!


Gravuras rupestres de Foz Côa, um milagre de conservação.
Uma viagem no tempo. Uma observação comovida e respeitosa.

As árvores no Outono! Festival de cor. Variação. Festa de despedida...

Céu, nuvens, a terra vista do ar!...

5.12.06

P.133: Tradição e inovação



Medida de remediação... e coro de protestos!
:-)
Mas a fotografia aguçou a curiosidade e acalmou os ânimos.
Nota: não estão todos visíveis; havia mais telemóveis do que alunos...

4.12.06

P.132: Atrasos e bacorada!

Ninguém me contou, fui eu mesma que ouvi: o nosso actual Ministro da Saúde não considera relevante a pontualidade dos médicos, o importante, segundo diz, é que “no fim, o serviço apareça feito”! E como se a afirmação não fosse suficientemente elucidativa e aberrante, ainda reforçou com um exemplo do hospital em que se encontrava, afirmando que às 8h00 da manhã de hoje só dois médicos, dos muitos escalonados, se encontravam já no serviço…
Então e os horários dos doentes? Os seus trabalhos abandonados o tempo de cuidarem da saúde? As suas esperas angustiadas? A acumulação de serviços? A irritabilidade inerente, com consequências no atendimento?

Não correrei muito perigo de que os meus alunos tenham ouvido e atentado nestas palavras do senhor governante, mas é sempre com preocupação que vejo gente responsável desfazer, com o que me parecem maus exemplos e/ou afirmações gratuitas, aquilo que tanto nos custa a construir.

É que na escola, para além das matérias de cada disciplina, ensinam-se, promovem-se e avaliam-se atitudes e valores, dos quais a assiduidade e pontualidade fazem parte integrante e importante. Batalhamos nós para que os meninos apressem o passo para a aula, afirmamos-lhes que a presença regular e pontual é uma das qualidades importantes, com grande visibilidade e valorização no mercado do trabalho, onde mais tarde ou mais cedo irão ingressar, e vem um alto responsável da nação borrar-nos completamente a escrita!
...
(imagem googleada)

3.12.06

P.131: Ser jovem em Portugal.

Aqui está um estudo, com resultados apresentados hoje, que não causa grandes surpresas, pelo menos naqueles aspectos mais ventilados, já que não o conheço na íntegra para poder afirmar que tudo estava já visto e era sobejamente conhecido.
Não deixa, porém, de ter algum impacto, sobretudo para os pais na minha faixa etária, ver tudo assim posto em números certos, e algo assustadores, que retratam a nossa realidade.
Habituámos os filhos ao conforto e as condições externas são bastante adversas. O resultado está à vista: a liberdade e o espaço próprio conquistam-no dentro das nossas quatro paredes e gerindo a nossa conta bancária!...
Acumulando anos de trabalho e de independência conquistada bem cedo, vai caber-nos, ainda, aligeirar por muito tempo o fardo das dificuldades da vida dos filhos, na formação cada vez mais prolongada, no trabalho que não há ou é precário, no carro, com prestações enormes, na casa que é caro adquirir ou arrendar… E em tudo o que é bom e que lhes proporcionámos, mas que eles não podem manter sozinhos de forma fácil e, como tal, continuarão a esperar de nós! Porque o problema reside também, ou principalmente, nessa facilidade que não nos foi legada, mas que lhes demos a beber desde o primeiro biberão de leite!
Pensar em tudo isto quando sobre a geração paira o fantasma de uma segurança social em falência e quando mal se acabou de saber, e ainda não de digerir, que se vai trabalhar até aos 65 anos (desde os 22, façam-lhe a conta!) é quanto basta para deprimir um optimista!

Mas convém não ceder a angústias e, sobretudo, não abusar de anti-depressivos, sob pena de nos tornarmos nós próprios instáveis, precários, e deixarmos afundar o nosso barco…
Que diria a minha avozinha, também professora, sob o regime de Salazar/Caetano, que tantas vezes exibia perante a nossa vida fácil de crianças de um novo regime, que havia trabalhado 40 anos (isto afirmado com grande ênfase e solenidade), se soubesse que a neta vai ter que chegar (logo se verá, mas antes lá chegue!) aos 43?!...
E os bisnetos da minha avó, que poderão esses esperar…?
...
(ilustração: imagem da capa do livro L'enfant lecteur, ed. autrement)

2.12.06

P.130: Também pela PAZ!

Uma iniciativa pela paz, fácil e agradável de concretizar. A expectativa é grande, mas mesmo que os resultados fiquem aquém do esperado, ninguém terá que reclamar. :-)

Prepare-se! É já no dia do solstício, 22 de Dezembro.
___ .. ___

Divulgação aqui. Explicação e detalhes aqui.

1.12.06

P.129: Vestígios do que era

(Lamas d'Olo, Parque Natural do Alvão)


Ter…
Um tecto.
Amor, talvez; e um abrigo de fera.

Ser…
Um pouco mais que o animal que se alimenta
e leva à feira.

Viver…
Num limiar de Idade Média!