29.10.07

P.363: (Des)arranjo de flores

Houve festa no canteiro... :-)
...
Dedicado ao meu avô, que faria hoje 107 anos pelo B.I. e 106 na realidade, que detestava os desmaiados crisântemos desta época tristonha e que colheu muita flor, destas e de outras qualidades, em anos longos de celibato festivo...

24.10.07

P.362: Faça o favor de sorrir...!

(Imagem do Google, não identificada)

modas que se tornam manias, modelos que se exageram até ao ridículo. Eça de Queirós retratou bem a tendência, por exemplo naquele quadro irónico em que desenha, n’Os Maias, a desproporção das botas dos lisboetas, modelo importado e aumentado sem gosto.
A caricatura ultrapassa muito o campo restrito da moda de imitação no vestuário e há, de facto, domínios em que as tendências que se instalam e a procura de ser muito “moderno” têm efeitos ainda mais negativos na perda de um equilíbrio que o bom senso aconselharia.
Em muitos sectores de actividade muitas coisas eram feitas seguindo um projecto mínimo, pelo menos a nível do papel. Sabia-se o objectivo, pensava-se a actividade e o que era necessário para a concretizar e, muitas vezes com uma simples comunicação e aprovação oral, passava-se sem mais delongas à acção.
A avaliação dos resultados seguia, frequentemente, o mesmo procedimento simplificado. Não falo, naturalmente, dos grandes empreendimentos, mas das pequenas coisas. Talvez fosse amadorismo. Talvez se arriscasse algum desperdício de meios. Talvez. Mas muita coisa acontecia e muitos benefícios daí resultavam, ainda que não rigorosamente quantificados.
Desde que alguém, lá fora, se lembrou de considerar que todos os organismos devem ser geridos como empresas e alguém, cá dentro, descobriu esse filão de imitação – parece que sempre fomos bons nisso –, nada se faz sem projecto (engorde-se bem a palavra, porque ainda que se trate de trocar a sanita e três azulejos, tem que parecer muito importante…). Enquadramento, muitos objectivos complicados, estratégias, actividades minuciosamente descritas, dinamizadores, público-alvo, inquéritos de satisfação e relatórios para a avaliação… muito, muito papel.
Num determinado serviço alguém se lembrou que seria bom introduzir uma “Caixa de Sugestões”. Ingenuamente, fez oralmente a proposta ao chefe. O que daí resultou foi uma carga de trabalhos: explicaram-se os antecedentes e fez-se o enquadramento; definiram-se objectivos gerais e objectivos específicos; fez-se a descrição sumária; determinaram-se as componentes e acções; calculou-se o financiamento…
De tudo isto, resultou uma caixa, 30 x 25 x 20 em material acrílico, destinada a receber pequenos papéis. De tudo isto resultou ainda uma “folha de registo”, para o funcionário ingénuo fazer o acompanhamento das sugestões/reclamações. Na última linha preenchida pode ler-se: Motivo da reclamação – falta de sorrisos dos funcionários”… Alguém se admira…??

22.10.07

P.361: Sinais...

Às vezes, de facto, parece que tudo nos empurra para um determinado tema! Coincidências. Há uns dias que o sinto. Músicas ouvidas ao acaso, conversas de esplanada, até lembranças em blogs, como esta da Bettips que, já por mais de uma vez, me "deu a deixa" para a escrita e hoje até uma velha entrevista com Vinicius, na série televisiva Conta-me!
Falo da música brasileira, da sua versatilidade, da quantidade de bons músicos, de bons cantores, de tanta melodia simples e bonita, dos muitos textos tão despretensiosos quanto significativos…! Não sou entendida em matéria musical, mas em escassos minutos, como simples amante do som bom desse lado do mundo, vieram à fala, sem esforço de memória, uma vintena de nomes consagrados. Pequena amostra.

Para além de muitos e bons, os compositores/intérpretes brasileiros têm uma característica que aprecio: cantam-se uns aos outros, interpretam com alma a música de um amigo, tornando-a outra, fazendo-a “sua” sem usurpação… renovam, multiplicam.


Foi por isso que procurei em vão o «Sinal Fechado» nas letras de Chico Buarque, por ter na memória a sua voz cantando em dueto com Betânia, quando afinal a canção é de Paulinho da Viola. Em 1974, Chico gravou um álbum com esse nome, contendo música alheia, uma vez que a censura vetava toda a sua produção. Nessa busca descobri, com agradável surpresa, que em mais de 80 títulos indicados do Chico, sou capaz de trautear uma grande quantidade de canções na íntegra!

«Sinal fechado» é uma das que tenho também em memória. Repeti-a centenas de vezes, no passado, sem reparar muito no engenho fantástico de fazer arte da banalidade aparente. Tomo-a aqui como exemplo de tantas outras que falam do homem e da vida de maneira simples e bonita. E me encantam…


Sinal Fechado
(Paulinho da Viola)
Olá, como vai? /Eu vou indo e você, tudo bem? /Tudo bem, eu vou indo, correndo /Pegar meu lugar no futuro, e você? /Tudo bem, eu vou indo em busca /De um sono tranquilo, quem sabe? /Quanto tempo.../Pois é, quanto tempo...(pausa) /Me perdoe a pressa /É a alma dos nossos negócios.../Oh, não tem de quê /Eu também só ando a cem /Quando é que você telefona? /Precisamos nos ver por aí /Pra semana, prometo, /Talvez nos vejamos, quem sabe? /Quanto tempo.../Pois é, quanto tempo...
Tanta coisa que eu tinha a dizer /Mas eu sumi na poeira das ruas /Eu também tenho algo a dizer /Mas me foge a lembrança /Por favor, telefone, eu preciso beber /Alguma coisa rapidamente /Pra semana.../O sinal.../Eu procuro você.../Vai abrir! Vai abrir! /Prometo, não esqueço /Por favor, não esqueça /Não esqueço, não esqueço /Adeus...
Sinal Fechado - Toquinho & Badi Assad (pot-pourri)

18.10.07

P.360: Guerra

Ainda a verdade.

Talvez alguma me surja no confronto agora pacificado das duas partes, em mostra na série Guerra da RTP1. Verdade sobre um passado enlaçado com os primeiros tempos da minha vida.

Não fora ainda, até aqui, tempo de despertar a curiosidade sobre essa verdadeira história. Não fora ainda tempo de aceitar mais do que os pequenos relatos familiares na primeira pessoa.

Agora sim. Disponho-me a descobrir o ambiente que um jovem, na perspectiva de ser meu pai, encontrou. Desembarco em Angola, no seu lugar, oficial que vem para a guerra. Observo tudo com os seus olhos de homem jovem e bom.

É assim que quero saber, hoje, das imagens, dos medos, das ordens cumpridas, das revoltas, da fome, das marchas, das ciladas, das dores físicas e das outras… e das dúvidas… Encarar eu, na sua vez, alguns dos fantasmas que guardou todo o tempo de vida que seguiu, sombras só esboçadas nos seus contornos menos sinistros e em parcas palavras.

P.359: Simplicidade. Força. Verdade.


«Um homem sofre e experimenta desgraças sobre desgraças. Suporta-as, instala-se no seu destino. É estimado. E depois, uma noite, nada: encontra um amigo que lhe foi muito querido. Este fala-lhe distraidamente. Ao voltar a casa, o homem mata-se. Fala-se depois de desgostos íntimos e de drama secreto. Não. E se uma causa é absolutamente necessária, ele matou-se porque um amigo lhe falou distraidamente. Assim, de cada vez que me pareceu provar o sentido íntimo do mundo, foi a sua simplicidade que me perturbou sempre».

Albert Camus, O Avesso e o Direito

13.10.07

P.358: Fátima, pela televisão

Festa. Luz de grande espaço num ainda Verão de Outono.
Focagem ao longe das mantas de gente cobrindo um espaço de fé que se espraia.
Ao fundo, apenas lembrando uma praça de toiros, a nova igreja circular, imensa, de paredes construídas com dinheiro que devera ser gasto a matar a fome, a tratar doentes, a ajudar milhares de necessitados...
Focagem ao perto de pormenores de luxo, coroas de ostentação, brilhos, roupagens.
E, no meio de tanta coisa errada, emergindo em simplicidade, uma cruz fantástica de um Cristo só feito de ferro ou lenho ondulado, expressivamente pregado, descaindo das traves cruzadas, altas e esguias, no espaço!
Tradução simples, de artista (qual?), de uma mensagem que anda esquecida há séculos por quem mais se diz lembrado dela.
(Quando conseguir a única fotografia que queria ver aqui, a da tal cruz, simples como o Cristo a ela pregado..., ilustrarei esta publicação...)

9.10.07

P.357: CHE


Pouco me parece haver de mais irresistível no homem do que a associação da beleza à inteligência e à defesa de uma causa…

Acredito na força de acreditar mais do que no credo em si.

Que importância tem que o futuro de Che fosse uma provável decrepitude cega como a que ataca Fidel…?
Não chegou a embranquecer a sua barba. E da mesma forma que o seu corpo se esquivou ao tempo, os seus ideias fugiram à usura da aplicação, ao crivo da realidade vivida.

Pairaram no ar as suas ideias humanitárias, envolvidas no olhar quente e latino, acentuado pela boina intemporal do seu retrato…
Assim o vemos e assim queremos/cremos em Che, um mito de quarenta anos, hoje!
Google - imagens

P.356: O estado da nação


Dividir para reinar, aproveitar os descontentamentos, pôr uns e outros apontando-se o dedo – todos feitos, a um tempo, Judas e Cristos –, mascarar de rigor a exploração das gentes.
Assim estamos! Vivemos hoje mais ansiosos, menos felizes, ou será só impressão minha, custos de uma adultidade para que nunca me senti verdadeiramente preparada…??!
Seja o que for, dirão alguns, tinha que ser! Teria?... E a imaginação perde-se-me nos muitos caminhos que vão dar a Roma.
Um dia, atravessando de França para Itália de carro, surgiu-me pela frente o velho e longo túnel de Fréjus. Não sei como estará hoje. Na altura, foram 13 penosos quilómetros de um buraco negro sem fugas, travessia cara e claustrofóbica, doendo a cada minuto! No regresso, serpenteámos os Alpes, numa alternativa cheia de perigos de avalanches, mas com muito ar puro respirável…
Ainda que difíceis, são necessários caminhos alternativos. O estado depressivo da nação não pode continuar nesta asfixia de túnel de ar viciado, de sentido único!

1.10.07

P.355: Por ela, neste dia


O meu rufar de tambor, a minha batida sincopada, dois acordes de palavras emocionadas, a melodia simples e alegre de um louvor…

Sem ela, que Homem e que vida…??!