22.8.07

P.341: 22h22

A hora dos cisnes, hoje, foi tempo de limpar a alma e sacudir do corpo tristezas inesperadas que o dia me trouxe.

21.8.07

P.340: Domingo


Domingo. Agosto. Minho.

A toda a volta e fora de esconderijos bem guardados, gente como formigas, em dia de “cigarrar”…

Tanto povo! Tanta música! Tanto pique-nique de estrada! Tanto ventre proeminente! Tanto palito na boca! Tanta vestimenta de festa a par do chinelo no dedo…! Les parents et les enfants, evidémment… E os parentes de cá, não desfazendo…

Haja alegria ! E paciência ! E oásis de Natureza sem gente para onde fugir, por alguns momentos…!

18.8.07

P.339 Um sagrado profano


Não sei como dizer isto com uma verdade que não se perca numa aparência de exagero ou pieguice. Sagrado, no sentido de incondicional no amor, no apoio, na atenção, na dádiva que impõe, ou não, sacrificada dedicação: uns quantos da família e uns poucos que, não o sendo, se tornam.

De abstracção o sagrado tem, portanto, apenas esse elo invisível, indelével, que nos une a todos aqueles que cobrimos com o escudo da nossa protecção, apesar das diferenças que se agigantam, das incompreensões incontornáveis, quando existem…

Sagrados, também, momentos. De prazer, sublimes, divinos (sem blasfémia). De encontro com a Natureza, quando, por exemplo, nos sentimos envoltos em beleza e sentimos que há certezas, razões e harmonias em tudo o que vemos.

Coisas assim fazem a minha noção de sagrado. Nenhuma entidade “omnia”, na presença, no poder ou na sabedoria…

15.8.07

P.338: A caça


Há na minha vida histórias de caçadores amados. Esse, que é tema do texto anterior, não é o primeiro, porque antes dele e mais ainda que ele, há um avô, “o” avô – que me perdoe o outro, porque nestas histórias de sangue nem só o sangue fala –, que encheu algumas vezes a minha infância, e a cozinha da minha avó, de perdizes, rolas e tordos, e o prato de manjares de caça sublimes, como nunca mais, nem no mais genuíno restaurante, pago a preço de jóia, pude provar…!

Espingarda, cartuchos, colete, histórias de perdigueiros exemplares em obediência e na arte de “marrar”, histórias de madrugadas e de amigos e de merendas e de dias felizes e de maus momentos e de paisagens soberbas, que haviam de ser locais de bons piqueniques familiares, povoaram esse tempo.

Era um tempo em que, também, com alguma facilidade e sem grande arrepio, via a minha avó, professora de profissão e mulher de muitos combates, matar, ali mesmo no quintal, a galinha que havíamos de comer de cabidela ao almoço.

Gonçalo Cadilhe deu conta, no seu África Acima, já aqui referenciado, do quanto mudámos na sensibilidade a essas crueldades que, numa idade em princípio mais sensível, víamos como naturais. Hoje, continuamos a comer galinha, mas já não aceitamos assistir ou perpetrar a sua morte… Uma sensibilidade hipócrita?...

Seja como for, e voltando à caça, essa sim, sinto-a como obsoleta como “desporto” admissível. Gostaria que o meu avô, e Torga, seu contemporâneo, se vivessem ainda e tivessem a veleidade de caçar, o fizessem pela caminhada, pelo farnel, pelos amigos, pela natureza descoberta no palmilhar dos caminhos e dos montes a esmo e se apiedassem dos bichos num tempo em que são mais os caçadores que as presas…!

Hoje acordei às 6h00 da manhã com barulho insistente de disparos. Por trás da minha casa, num perímetro urbano, há uma veiga e alguns montes pintalgados de casas, por onde o som se propaga e ecoa. Foi durante o dia que soube a razão da violência do meu despertar… Reabriu a caça!

14.8.07

P.337: O meu Portugal - Biografia de Miguel Torga

Diz António Barreto que Torga não é nada bucólico (RTP2, 13 de Agosto de 2007) e eu, que geralmente estou de acordo com as opiniões expressas por António Barreto, não posso concordar, nem compreender, que um homem habituado a analisar pessoas, mormente os grandes deste mundo, que por arte ou feitos se libertaram da lei da morte, possa dizer, de um poeta assim, que ele é nada disto ou tudo daquilo…!

Nada bucólico e tudo rudeza! Não posso concordar! Que dizer então de um poema que é um hino ao florir de uma macieira ou das manifestações poéticas que celebram os primeiros indícios da Primavera?

Um grande poeta é, penso eu, e aqui modestamente o expresso, o escritor de instantes e de permanências, das situações diversas de que se faz a vida, o sonho, o real e o imaginado, o trivial e o sublime, o essencial e o supérfluo, a natureza rude, cruel e também bucólica, de uma beleza imaculada.

Olhando o seu Doiro, o coração solidário de Torga teria naturalmente que ver principalmente a dureza do esforço humano de uma tal catedral esculpida. Mas nunca o mesmo coração sensível se fecharia à beleza de uma flor que se abre ou ao renovo de uma natureza primaveril que contraria a cinzentez da Quaresma.

Difícil, realmente, falar de um grande poeta. E uma boa solução, a de Maria Alzira Seixo, centrada na questão da relação entre a terra e o mar e na leitura, brevemente comentada, de um poema que a traduz. Aí a presença do Marão, que, para além de ser o nome da serra tutelar, representa para os transmontanos a ideia de grandeza e pode, ainda, ser um aumentativo de “mar”…

10.8.07

P.336: Novas oportunidades...?!

Ontem, fiquei a pensar nesta coisa dos percursos de formação tradicionais e alternativos, nas justiças e injustiças associadas e nas responsabilidades superiores neste “sem rumo” em que se encontram tantos jovens!

Em três lojas do Centro Comercial, três antigos alunos: livraria, casa de fotografias e hipermercado.
Não sei qual a formação actual da minha aluna da livraria, mas lembro uma miúda atinada, tímida, cumpridora que, provavelmente, prosseguiu estudos.
No hipermercado, uma licenciada em Engenharia do Ambiente, com curso concluído há dois anos.
Na loja de fotografia, o mais bardino dos três e, afinal, o único com formação adequada e ao nível daquele emprego! Arrastou-se pela escola, meteu muita gente no inferno, incluindo a minha pessoa. Mas lá o fomos amparando e encaminhando para um Curso de Educação e Formação de Operador de Fotografia, concluído a muito custo e com equivalência ao 9ºano. Ontem à tarde estava como chefe da loja e quando entrei, resolvia ele, num português deficiente mas cheio de inesperadas delicadezas, uma situação problemática apresentada por uma cliente jeitosa…! Dinâmico, feliz, cumprimentou-me efusivamente!... disse até uma piada sobre a dificuldade da clientela em comparação com a facilidade da escola…!

No piso inferior, a “minha” engenheira, de uma capacidade que pude comprovar ao longo dos três anos do secundário, passava códigos de barras, fazia trocos e imprimia senhas de desconto em gasolina… O seu desanimado “foi para isto, professora?” trespassou-me… Senti-me como se tivesse andado três anos a propor-lhe um el dorado de fita americana!...

9.8.07

P.335: Quiproquó

Mais uma vez a memória, desta feita das palavras. Quiproquó, quem se lembra dela?... Estranha, sonora, gira, mas soando a latim erudito e de difícil articulação. Talvez por isso, foi ficando para trás, embora a realidade que designa se mantenha sempre, lamentavelmente, actual.


Quiproquó: Perturbação na comunicação, resultante de erro de interpretação ou confusão de palavras; equívoco.

5.8.07

P.334: Bolacha...?!


Por vezes, nas arrumações de férias, há descobertas em que paramos, para deixar correr a memória... :-))

4.8.07

P.333: Titular...


Quando nos pomos a falar de assuntos profissionais, corremos sempre o risco de nos tornarmos tremendamente maçadores. Pior do que isso, só mesmo falar do serviço militar a um antigo combatente, despoletando as suas longas confidências, mais facilmente do que ele próprio descarregou a arma que teve que transportar ao ombro – veja-se, a este propósito, a magnífica tira da Mafalda de Quino!
Mas não posso deixar passar as felicitações que tenho recebido de família e colegas, sem manifestar o meu testemunho e protesto.

Para quem não seja do meio, mas costume ler, ouvir e ver noticiários, esta questão pode ser um logro. Não se pense que, de facto, e como alardeou o Ministério da Educação, a carreira de professores titulares cria uma espécie de “grupo de elite”, mais experiente, mais formado e mais uma coisa qualquer (esqueço sempre o terceiro parâmetro do trio anunciado…)…!
Não. Entre os titulares ficaram os professores mais avançados na carreira, com melhores vencimentos, que agora terão que assumir os diversos cargos que existem nas escolas. Ficam, também, aqueles que, muitas vezes casualmente, desempenharam determinadas funções nos últimos sete anos. Ficam, ainda, aqueles que estavam na escola certa, na hora certa, ou seja, que tiveram vaga para si na escola em que se encontravam em funções.
É tudo uma questão de meios e da sua rentabilização (ou rendibilização, se seguirmos os puristas da língua).

Sou titular. Se o não fosse, tentaria sê-lo, pelos meios postos à disposição, porque é natural e humano querer ascender, progredir crescer… Mas este “concurso” não me honra especialmente. Sei que o sou por opções ou atribuições que fiz, ou me impuseram, nos últimos sete anos… Fora um para trás e não contava nada…!
Fazer um trabalho extraordinário com as turmas, cumprir medianamente funções, ou mesmo mediocremente, não modificaria coisa nenhuma…!

Desenganem-se pais, opinião pública: a titularidade dos professores é, em grande parte, casualidade. A grande diferença continuará a jogar-se no plano da qualidade, do empenho, da consciência e da vontade dos profissionais… com ou sem a dita titularidade…!

3.8.07

P.332: Superstições de outras paragens

Chega a enjoar, tanto olho geralmente azul-branco-amarelo, mirando-nos à entrada das casas, nos transportes, nas lojas, nas ruas, no pescoço das pessoas, no interior dos monumentos, na recepção dos hotéis, pendurados nos braços dos vendedores, pendendo das bolsas ou dos porta-moedas, em íman para o frigorífico, em postais para não enviar, em abre-latas, marcadores de livros dos que lêem, caixas, caixinhas e caixolas, cinzeiros e isqueiros de uso ou colecção e… e…
Com tanto olhar benfazejo, acrescido das muitas imagens do tutelar e adorado Ataturk (= pai dos turcos), impossível ter azar na Turquia…!!!