27.4.06

Página 87: Ainda a propósito da liberdade...

25.4.06

Página 86: 25 de Abril, efeitos do tempo

O cravo "estilizou-se" e simboliza, nesta nova forma, outra maneira de viver o antigo entusiasmo, coado pelos anos, sossegado pela vida fácil, quase esquecido no tempo que passou...




À meia-noite, uns foguetes de arraial, por desfastio. Preguiça-se um pouco de manhã. Os escravos da boa forma fazem corrida, os menos preparados caminham e as famílias com crianças pequenas vão ao parque infantil... Uns restos de festa, mais além, são afinal vestígios de um cortejo estudantil... E a tarde escoa-se pondo em dia conversas atrasadas ou aproveitada em tarefas úteis que o trabalho geralmente relega para depois.
Talvez na casa dos adolescentes lisboetas entrevistados na TV para a ocasião, escolhidos a dedo não só por estarem mais à mão, mas porque a sua visível ignorância sobre o significado da data deu ao jornalista a ocasião de preencher o seu próprio vazio de palavras, talvez aí algum pai, tomado de brios, conceda em evocar esse passado histórico recente em que participou ainda novito... A mãe, essa, sobretudo se a conversa decorrer ao alcance de ouvidos indiscretos, procurará alhear-se o mais possível, entretida com qualquer coisa de extremamente absorvente, e lembrada de uma das regras fundamentais de tia que se preza: nunca revelar onde se encontrava no 25 de Abril!
Parece um efeito ingrato do tempo sobre uma tão importante conquista, um passo histórico de gigante... Mas talvez não seja. Talvez o mérito do resultado da revolução se possa medir também por esta possibilidade de "esquecer", ou, dito de outro modo, pela "falta de necessidade de recordar", pela memória voluntária, pela imensa liberdade que isso representa!...
Eu, invariavelmente, recordo onde estava no 25 de Abril... e com quem... e por isso geralmente verto algumas lágrimas pelos meus heróis familiares perdidos, os que se congratularam e aplaudiram e os que lamentaram, preocupados... Todos tinham razão, como o tempo se encarregou de provar! E o meu 25 de Abril, antes de ser um feriado no calendário, foi um dia de intensas discussões, de conjecturas, de incerteza, de adrenalina!!!...
Visão plural sobre a data:

20.4.06

Página 85: a sublime forma de exprimir

a frustração... Num poema que, descoberto ao 18 anos, se impôs na sua estranheza, como um murro no estômago... numa altura em que o estômago aguentava, felizmente, estes e outros abusos.
Hoje, esquecida a estranheza, permaneceu a sublime forma de exprimir a frustração da mediania... Claríssima e tão precoce percepção!

Um pouco mais de sol - eu era brasa, / Um pouco mais de azul - eu era além. / Para atingir, faltou-me um golpe de asa... / Se ao menos eu permanecesse aquém...


Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído / Num grande mar enganador de espuma; / E o grande sonho despertado em bruma, / O grande sonho - ó dor! - quase vivido...


Quase o amor, quase o triunfo e a chama, / Quase o princípio e o fim - quase a expansão... / Mas na minh'alma tudo se derrama... / Entanto nada foi só ilusão!


De tudo houve um começo ... e tudo errou... / - Ai a dor de ser - quase, dor sem fim... / Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim, / Asa que se enlaçou mas não voou...


Momentos de alma que, desbaratei... / Templos aonde nunca pus um altar... / Rios que perdi sem os levar ao mar... / Ânsias que foram mas que não fixei...


Se me vagueio, encontro só indícios... / Ogivas para o sol - vejo-as cerradas; / E mãos de herói, sem fé, acobardadas, / Puseram grades sobre os precipícios...


Num ímpeto difuso de quebranto, / Tudo encetei e nada possuí... / Hoje, de mim, só resta o desencanto / Das coisas que beijei mas não vivi...


Um pouco mais de sol - e fora brasa, / Um pouco mais de azul - e fora além. / Para atingir faltou-me um golpe de asa... / Se ao menos eu permanecesse aquém...

Mário de Sá-Carneiro

15.4.06

Página 84: Paz


Há momentos assim, em que a solidão é comunhão e a paisagem, esta, estranhamente, é velha conhecida, grande amiga…
Há momentos assim, de tranquilidade de fim de tarde, de fim de missão, de interregno de obrigações, em que estando todos bem, entregues a si, aos seus outros e esquecidos…
... posso pousar o olhar tranquilo neste mar que me traz outras vidas, não sei se sonhadas, se vividas.
Há momentos assim, em que sou outra, diferente de mim.

Página 83: Paixão...

...a outra, a de que não gosto.
(com cordas, pregos, espinhos, martelos, chicotes, escadas, cruz...)

12.4.06

Página 82: Penélope...

2.4.06

Página 81: SUL

Beber, banhar, inundar, reflectir, ofuscar, aquecer, brilhar…
LUZ, BRANCO, ÁGUA...