29.9.08

P.454: Primeiro encontro com Paul Newman

Na gama de cinzas do preto e branco televisivo, uma cor de olhar feita de brilho e força. Corpo tenso, pose contida, uma aura de beleza que a promessa de mulher que eu era nunca vira antes!

E a impressão forte que ficou abriu, nessa noite, promissoras vistas e novos interesses num futuro que tardava...

(Fotografia: thecinemasource.com)

24.9.08

P.453: Apeadeiros...




Correm as festas ainda na alvorada do Verão.
Abrem-se e fecham-se malas em fugas de partichegada.
Eclipsou-se Agosto. Meio Setembro voou. Instala-se o Outono, passageiro como os demais, em rota para a Invernia.
E assim os trimestres e os anos.

21.9.08

P.452: Livre arbítrio

Se mais razões não houvesse, a mera possibilidade de sujeição a uma disciplina de voto era, para mim, suficiente para não abraçar um partido, não me querer representante política de nada…

Trabalhadora por conta doutrem, tenho não raro que executar políticas em que não acredito, implementar procedimentos de cuja eficácia duvido, defender a bondade de princípios sobre os quais me subsistem reservas. E procuro fazê-lo com o afinco do advogado apostado em provar a inocência de um culpado ou a culpa do inocente. Cumpro.
Mas votar é bem outra coisa! Dizer que quero, não querendo, recusar contrariada, afirmar ou negar não tendo a opinião formada... estariam seguramente acima da minha vontade de pertença ao grupo!

20.9.08

P.451: Aquele abraço...


13.9.08

P.450: Da lágrima e do choro

Questionário sobre a lágrima e o choro. :-)

Habituada a responder sobre coisas concretas, estatísticas, …., chatérrimas, olho com interesse as cinco questões que têm como objectivo saber o que as pessoas pensam, sentem e escrevem sobre a lágrima.
Manda-mo uma prima artista que trabalha o tema para uma peça. É de crer que seja difícil responder, compreende a autora que os inquiridos precisem de tempo para pensar.
Sem pensar, respondo. Penso depois, quando, concluindo, me apercebo da prontidão e da rapidez das respostas. Mas não, não é de admirar. Tenho com o choro uma relação de velhos amigos.
E, pensando bem, é extraordinário o choro! Bálsamo, terapêutica, paliativo da dor, do choque, dos sentimentos extremos, primeiro socorro… E vem-nos “incluído”! :-)


Para quem se sentir desafiado a pensar nas próprias lágrimas, ficam as perguntas:

1- O que é a lágrima?
2- Quando foi a última vez que choraste? Porquê? (descrever esse momento)
3- Em que filme(s) choraste? [descrever a(s) cena(s)]
4- Que música te faz chorar?
5- Qual a tua relação com o choro? (choro por felicidade, por tristeza... retracção do choro?...)

10.9.08

P.449: Credo!


Creio em mim – e nem sempre –, porque me sei por dentro. Creio na Natureza, conceito vasto em que incluo as Física, Biologia, Química que regem a essência do Universo (a Matemática parece-me só analítica, não “geradora”…, mas admito estar a cometer uma heresia).
Acredito depois, numa forma diferente de acreditar, na arte. Acredito tanto nela que, não sendo crente na bondade sem mácula do Homem, creio na sua representação na simplicidade desta cruz!
Cristo existiu, está historicamente comprovado. Foi provavelmente um homem bom e seguramente um líder. Teve, por certo, defeitos, o que a meu ver o torna mais credível. Mas a simplicidade que foi seu lema e que os vindouros não quiseram seguir, está aqui. Representação bela e simples, como uma doutrina em que se pode acreditar. O lenho torcido de um ser sobre as estacas hirtas de um castigo…
Há muito que esta fotografia me desafiava! Foi hoje.
...
Notas finais:
1) A única oração que conheço é o "Pai Nosso".
2) Fotografia tirada em Fátima, em Junho de 2008.

9.9.08

P.448: Divórcio

«O casar e ò calçar é ò gosto»
(Dito popular, com pronúncia nordestina)

Não tenho especial simpatia pelo Presidente da República Portuguesa, nem considero, habitualmente, interessantes as suas parcas intervenções na vida do país. É, dizem, um bom economista. Será, talvez, boa pessoa. Mas o “meu” Presidente, até ver, foi Jorge Sampaio.

Hoje, no entanto, acabo de seguir um conselho de Aníbal Cavaco Silva. Com alguma curiosidade em saber o que há no diploma que altera o Regime Jurídico do Divórcio, e o que suscitou um veto de alguém tão contemporizador, fui ler a mensagem que o chefe da nação endereçou à Assembleia.
O que me parece é que o divórcio de que aí se fala e aquele que se adivinha ser o da proposta de alteração legal (que não conheço na íntegra) partem de duas concepções de casamento e de família diferentes. O Presidente desenraíza a tradição, os deveres conjugais, a noção de culpa associada ao seu incumprimento, a difícil contabilização do contributo doméstico na economia familiar, a desprotecção dos filhos. Até aqui, entende-se na generalidade, ainda que não se concorde na especialidade. Infeliz o exemplo que vai buscar para os casos de mulheres vítimas de maus tratos. Veja-se:
«Assim, por exemplo, numa situação de violência doméstica, em que o marido agride a mulher ao longo dos anos - uma realidade que não é rara em Portugal -, é possível aquele obter o divórcio independentemente da vontade da vítima de maus tratos».
Quererá a vítima de maus tratos opor-se à separação do seu carrasco?! Enfim, não fiquei bem esclarecida quanto a este ponto. Parece-me, no entanto, que o Presidente tem razão numa coisa: a nova lei poderá aumentar a conflituosidade, num Portugal em que “a realidade matrimonial” tende a ser, mas ainda não é integralmente de “igualdade entre os cônjuges aos mais diversos níveis”.
Na base de tudo isto, porém, há algo que nenhuma lei impõe, do mesmo modo que do seu oposto nenhuma livra: casamento é uma união de duas vontades. Se uma se extingue, não há união, não é casamento.

6.9.08

P.447: – O jantar está servido!


P.446: A propósito da palavra rentrée

Há em cada língua palavras que dizem mais e melhor do que as suas “sinónimas” noutras línguas, para já não falar nas que de todo encerram significados com cambiantes intraduzíveis, como a nossa portuguesíssima saudade.
Rentrée, por si só, diz do regresso ao trabalho, da despedida das férias, do recomeçar da actividade, da retoma, da volta, daquele tempo primeiro que se segue ao descanso…
Se fosse poliglota, faria fortuna recolhendo e juntando as palavras mais ricas de cada língua conhecida…

5.9.08

P.445: Uma crónica para a rentrée


A culpa é do gene?!

Primeiro é preciso lembrar que sou um pouco míope. Acrescentar que o levantar de manhã não me acorda do sono que só me larga aos poucos, contrafeito. Saber que antes do pequeno-almoço, definitivamente, há que não confiar em mim…
Foi ontem ou anteontem. Deu-me para me informar sobre o país e o mundo – expressão registada? – loguinho ao sair da cama. Vim na incerteza dos primeiros passos abrir o «Público» no meu computador pessoal e descortinei num rompante, em primeira página, esta coisa insólita: em letras relativamente gordas e negras, visíveis ao meu olho ainda remeloso, o nome de Paulo Pedroso encimando a imagem bonita, transversal, de uma pila repousada entre pelos encaracolados, num baixo ventre pétreo de estátua…!
Por breves momentos, o deputado que ali estava, creio, pelo peso de uma indemnização ganhou uma leveza de Apolo confundido em associação sonâmbula de texto e ilustração desavindos.
Breves instantes. Foi afinal o texto a que me conduziu essa imagem que sacudiu um resto de sono numa quase gargalhada. Artigo científico publicitando uma descoberta extraordinária e, digamos, conveniente, tão conveniente que não sei se o estudo não terá sido feito por encomenda de uns tantos interessados! Título: “variante genética está associada ao divórcio e à infidelidade mas só nos homens”. Lendo, fica-se a saber que 40% dos homens possuem a dita variante genética “alegadamente” responsável pela sua maior apetência para a promiscuidade sexual…
Coisas sérias à parte, a vagabundagem masculina encontrou definitivamente aquela justificação de último recurso que lhe faltava e com todo o peso da ciência: a culpa é do gene que regula a acção da hormona vasopressina!
Por isso, não há volta a dar: agora só mesmo exigindo um certificado de fabrico, garantia de qualidade.