27.3.06

Página 80: TEATRO_ORTAET

Velhos e negligenciados amores...

Página 79: Mestre


Tempo!
Não ensines só a fuga!
Deixa aprender
A calma indiferente
Da espera?…
Habitua
À escorrência incerta
Do teu fluir,
Às correrias
Com que passas
E às paragens
Com que regulas
O fôlego
Da coragem!
Muda-nos, mas leva
A memória incómoda,
O desejo que não pudermos saciar!

Tempo!
Antes de esquecidos,
Ensina-nos a esquecer!...

23.3.06

Página 78: Fatalismo ou experiência de vida?

Há mais de vinte anos que conheço estas palavras. Tenho-as relido muitas vezes, a espaços mais ou menos longos. Hoje a leitura repetiu-se e, de repente, reparei que se tinham enchido de um novo sentido para mim, cheio de concordância. E a crítica social de Eça, cuja actualidade reconhecia em abstracto, particularizou-se numa caricatura individual, não ainda do que sou, mas do que provavelmente (fatalmente?) virei a tornar-me! Talvez seja, afinal, apenas uma questão de sobrevivência.

«Riram ambos. Depois Carlos, outra vez sério, deu a sua teoria da vida, a teoria definitiva que ele deduzira da experiência e que agora o governava. Era o fatalismo muçulmano. Nada desejar e nada recear... Não se abandonar a uma esperança — nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge, com a tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e de dias suaves. E, nesta placidez, deixar esse pedaço de matéria organizada que se chama o Eu ir-se deteriorando e decompondo até reentrar e se perder no infinito Universo… Sobretudo não ter apetites. E, mais que tudo, não ter contrariedades.

Ega, em suma, concordava. Do que ele principalmente se convencera, nesses estreitos anos de vida, era da inutilidade de todo o esforço. Não valia a pena dar um passo para alcançar coisa alguma na Terra — porque tudo se resolve, como já ensinara o sábio do Ecclesiastes, em desilusão e poeira».

Eça de Queirós, Os Maias - Episódios da Vida Romântica

19.3.06

Página 77: ESTRANHOS HÁBITOS - o anel retorcido...


Pronto, ok. Eu sei que este desafio já tem barbas, que há prazos razoáveis para anelar os elos à corrente.

Mas que queres? Distraí-me. Andei perdida em Carnavais que não ficarão para a história. E agora aqui estou, penitente e arrependida, a empenhar-me para que mais valha tarde que nunca. E olha que não é pequena tarefa, porque já de si o tema é paradoxal se pensarmos que o que é hábito não nos é estranho e que terei, portanto, que fazer o esforço de me olhar como a um outro para encontrar a bizarria…

Vejamos, pois…
Será, talvez, estranho… e, se não o for, é pelo menos hábito:

  • Ter sempre comigo água e tranquilizantes (cuja acção calmante se exerce sem precisar de os ingerir!... é só um just in case... chegam a passar de prazo!…)
  • Na mesa de todos os dias, o prato mais feio, a taça riscada, o copo defeituoso… por minha iniciativa, ficarem para mim.
  • Contar alunos para adormecer :-).
  • Nunca deitar tão cedo nem levantar tão cedo quanto queria.
  • Ter ideias “geniais” no preciso momento em que vou dormir… e esquecê-las irremediavelmente após o sono.
  • Comer e beber m..u..i..t..o..d..e..v..a..g..a..r.
  • Fazer a cama com gestos rituais, esmero e precisões próprias… difíceis de acompanhar.
  • Conduzir depressa em duas situações extremas: muito bem ou muito mal disposta!
  • Ficar mal impressionada com um aperto de mão frouxo.
  • Testar os homens à mesa… ;-)
  • Esquecer reuniões.
  • Perder guarda-chuvas

Este foi o anel solto com que a corrente já não contava…
por isso, fiquemos por aqui!

Estou perdoada?

Página 76: Tango Contemporaneo

Hoje enchi a casa destas sonoridades e desloquei-me em movimentos sacudidos e cheios de graça imaginada, em tangos de imitação lusa, sem técnica, mas cheios do gosto de quem nasceu com ritmo e vontade.


Ainda que… (e agora imaginem todas as desfigurações do erótico feminino) o som encanta e o corpo responde na pose orgulhosa e sedutora do desafio… e logo na rendição… e na devoção: és meu e prendo-te neste olhar e quero-te… ainda que só por hoje… ainda que só o momento que dure o teu prazer!...

Estou apaixonada por este som que enche, move, empolga os sentidos… por este rapaz argentino, com aparência de filho do CHE, simples, bem humorado e talentoso…
Juan Esteban Cuacci.



Se puderem, ouçam!
Dancem!

Besos calientes!!

16.3.06

Página 75: Coisas deste mundo...



... ou, como diria Semcantigas, «that's all fake, folks»!...

13.3.06

Página 74: Estado de espírito e culinária

Por alguma razão… anda a apetecer-me este tipo de preparação culinária, com grande impetuosidade de golpes e velocidade na minha faca afiada…

Faltam aqui as cenouras… ah!... e bananas, naturalmente, esfrangalhadas à dentada!...

Os tomates recheados têm, claro está, o requinte do esventrar e picar do miolo… uma delícia!...
Servidos?...

(Quem eventualmente quiser contribuir para a ilustração, é favor mailar para lestesol_oestelua@yahoo.com)

10.3.06

Página 73: Comunicação

1.3.06

Página 71: Carnaval II

Em dia de silêncio íntimo,

o chocalhar garrido
dos Caretos de Podence
e o olhar falsamente azul
de uma criança...
(Tudo o resto são pormenores sem importância).