P.193: Razões para perder a cabeça
Sempre pensei que fosse questão de fragilidade: região cimeira, pescoço delgado… Mas não é só! Que me desculpem os vigários se pareço tentar ensinar-lhes o Padre Nosso, mas para aqueles que se mantêm na ignorância em que eu estive até há bem pouco tempo, direi que há uma outra razão de peso. É que muitas das estátuas eram esculpidas sem cabeça. Deixava-se o pescoço rematado de forma a poder levar, depois, a cabeça de quem mais conviesse, de quem estivesse no poder na altura, do glorificado pela campanha, de quem encomendasse… E quando cessasse o poder, o dinheiro ou a glória, o mesmo corpo, de envergadura e formas disfarçadas pela toga ou pelo vestido pregueado, podia bem ser decapitado do rosto do defunto ou deposto e ganhar a cara de novo afortunado. Simples economia e pragmatismo.
Assim se explica que muitas estátuas tenham chegado até nós em estado de boa conservação, mas separados, e por vezes mutuamente perdidos, a cabeça do tronco e membros.