14.2.07

P.184: Vida(s)


Contra a corrente, valorizo muito a vida que tenho! Não sei claramente se é bom, se é mau. Pode até ser uma sinal de pequeno-burguesa acomodada, como o “triste de quem vive em casa/contente com o seu lar” de Fernando Pessoa…
A verdade é que me acontece frequentemente constatar a felicidade que tenho por isto ou por aquilo, não só em contraste com outros e outras vidas que conheço mais ou menos bem, como mesmo em contraste comigo, noutros tempos! :-)

Hoje, por exemplo, quebrei um dos meus hábitos de privilegiada da sorte e fui a uma grande superfície ao fim da tarde. Nada melhor para retemperar forças do que fazer esta experiência, ver a azáfama cansada do trânsito e das compras do fim do dia e pensar: eu já não preciso disto! Ou, pelo menos, eu raramente preciso disto. Exemplo corriqueiro e, no entanto…

Tudo melhora! É certo que já não é possível comer descuidadamente sem variar o peso, nem encurtar drasticamente as horas de sono sem perder frescura no olhar. Mas muita coisa melhora! O amor torna-se mais sabedor e intenso, o dinheiro um pouco menos escasso, o sono matinal menos necessário. A selecção do válido e do importante clarifica-se e a actuação mais certa em cada situação surge com mais naturalidade. A lição de ontem mostra como tudo o que se cobre de negro, a dado momento, se há-de desanuviar em dias de tempo bom! E essa constatação, inequívoca, dá forças na adversidade.

E depois… A vida tem tanto para oferecer! Desistir dela por A ou por B, quando existe todo um alfabeto de hipóteses de realização?!...

Escrevo isto pensando no universo crescente de depressões, de depressivos que povoam o nosso mundo. Imagino que as razões de tal estado estejam num véu que se forma e que esconde as possibilidades em aberto, a beleza, de um mundo ainda possível…
Há redutos. Há reservas de belo. Há que afirmá-lo com convicção, quanto mais não seja para recuperar para um cepticismo construtivo os sofredores capazes de se tornarem em opositores. E, com isso, limpar-lhes a alma.

3 Comments:

Blogger Irene Ermida said...

como te entendo!
aprendemos a relativizar as coisas, a valorizar pormenores e a esquecer a opinião dos outros;
ninguém nos tira aquela ruga na alma ou nos olhos... mas aprendemos a olhar-nos e a sorrir-nos...

fevereiro 15, 2007 9:30 da tarde  
Blogger aDesenhar said...

d:-)

fevereiro 16, 2007 12:52 da manhã  
Blogger M. said...

Gostei muito, Nucha.

fevereiro 23, 2007 12:41 da tarde  

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