31.1.08

P.391: Da história da sua vida... :-)



«Depois nasci eu. Era quase careca».

29.1.08

P.390: A magia das T.I.C.

A informática nas escolas é uma das coisas mais desgovernadas que conheço. Uma verdadeira tragicomédia, género que dantes se dizia caído em desuso, mas que foi agora recuperado em representações diárias, provocando, como é de regra, o riso e o choro de actores e espectadores do drama.
De certo modo a situação espelha o país política e socialmente, numa amostragem muito interessante das diferenças, das opções impensadas, da gestão improvisada, do crescimento rápido mas “insustentado”… e da dose de magia que ainda se insinua nas nossas vidas, quando encontra caminho através da falta de conhecimento ou apesar dele.
Às vezes parece-me que estamos, neste domínio, como na anedota das cooperativas portuguesas da Reforma Agrária – uma história de vacas e de bois e de muito descontrolo “produtivo”! :-)
Vêm as aplicações de software com programas interessantes, não “correm”nas nossas máquinas obsoletas. Reclama-se por hardware mais “performante”, mas este deve vir em comboios espanhóis, porque llega quando llega… Apareceu finalmente? Pena é que os programas tão bons quando o equipamento foi pedido já estejam desactualizados… O Ministério publicou um guião importante que querias mostrar aos colegas? Esquece, o computador não tem a aplicação necessária para abrires o ficheiro e também não tens autorização para a instalar. Ai tinhas o trabalho feito no Windows Vista, ah?! Anginha! Quem te disse que cá no sítio havia algum PC com essa coisa?... Sim, sim, devíamos controlar a pontualidade dos alunos, mas com o tempo que leva a abrir os sumários electrónicos, os retardatários encontraram um aliado, n’est-ce pas?
Depois há as diferenças de conhecimento. Muito muito, aquilo que se diz “muito”, ninguém sabe. Uns poucos sabem alguma coisa. Uns mais sabem mais um pouco. E, em conjunto, estes são os reis na terra de cegos dos outros. Falo dos profs, claro. Que os miúdos, esses, saibam ou não, nunca se atrapalham. Ou, por outra, sim: quando a máquina, com vagares alentejanos, bloqueia sob os seus dedos apressados e os faz passar o intervalo todinho a retocar e imprimir o trabalho que era para ontem…!
Depois, temos os golpes de mágica: talvez não os tenhamos secretos, mas temos ficheiros desaparecidos, ratos alucinados, teclados de letras trocadas, computadores que ignoram as pen-drive (o que tu queres sei eu!...) e pens que se recusam a abrir… (ah pois é…). Mas o milagre, o verdadeiro, é quando tudo se resolve desligando e voltando a ligar! Aí é que a máquina nos domina e, estando atentos, podemos ouvir o seu riso escarninho!... Digam lá se isto não é coisa de outro mundo…?!

27.1.08

P.389: Obviamente...

Humberto Delgado com uma capa negra oferecida por um estudante vilarealense, junto ao monumento a Carvalho Araújo, 22 de Maio de 1958.
(Fotografia daqui).
Uma das coisas boas da profissão é a procura constante e as descobertas que se fazem por esses caminhos. Foi assim que desencantei esta fotografia, testemunho da passagem de Humberto Delgado por Vila Real, um acontecimento que deve ter sido recordado na família mais do que uma vez, na minha infância, mas de que não tinha memória.
Arrancou-me um sorriso. Imaginei com agrado, não sei se acertando com a verdade dos factos, esta cidade, geralmente tão acomodatícia, vibrando num comício de esperança e adrenalina…! Terá sido? Não deixarei de perguntar.
Percorri depois, e pasmei, a biografia do general. Quando se enfrenta um regime ditatorial sem medo, se responde sem papas na língua “Obviamente demito-o!”, falando de Salazar, e se morre tragicamente assassinado, a tendência dos vindouros é conhecer apenas essa face mais visível e espectacular de herói. Mas a vida de Humberto Delgado foi toda ela cheia, bem vivida, plena de sucessos, no duplo sentido de coisas acontecidas e de glórias alcançadas.
Veio-me à ideia aquele concurso de grandes portugueses que aqueceu alguns ânimos nacionais o ano passado e tive curiosidade de ir ver em que posição ficara o General Sem Medo, que, forçosamente, teria que constar da lista de nomeados: 28º!... E ganhou o seu opositor, provável responsável máximo da sua sentença de morte…

20.1.08

P.388: Uma curiosa missiva


Nas minhas escassas visitas a museus, poucos objectos me emocionaram tanto como esta “antepassada” da carta, folha de barro, mensagem trabalhosamente registada, sobrescrito decorado.
Há-as comerciais e privadas. A escrita é cuneiforme, a língua Assíria. Eram cozidas depois de escritas, metidas no envelope e cozidas de novo, para selar o invólucro. 19 séculos a.C.!
Vou usar a imagem numa das próximas aulas, para introduzir o estudo do texto epistolar. Quero ver os olhinhos piscos dos meus alunos de sms abreviados pasmando diante desta tarefa árdua de escrever, quando ela era realmente difícil… :-)
Postal trazido do Museu das Civilizações da Anatólia, em Ancara

13.1.08

P.387: Ilustrar o tempo


Ficha de leitura. Questões pensadas para revelarem, com verdade, uma leitura pessoal da obra escolhida. Das críticas dos outros estamos nós fartos, não é meninos?... Vamos lá! Pouco que seja, mas genuíno!
Há sempre uns 10 a 20% que nos levam a sério. Por esses não perdemos de todo o entusiasmo. Por isso me deixei contagiar pela preocupação séria da miúda. O prazo de entrega esgotava-se dali a dias e a professora pedira algo muito difícil mesmo, se não impossível!...
A sério?! Ora diz lá.
O busílis residia naquela minha observação final: as respostas sobre o espaço e o tempo devem ser ilustradas com passagens da obra.
E a garota balouçava o estojo dos lápis de cor na minha frente, atrapalhada. Professora, eu o espaço ainda consigo desenhar… Mas o tempo…?! Como hei-de ilustrar o tempo??...
L., mea culpa!
Em próxima aula, polissemia e, claro, o verbete do verbo "ilustrar". :-)

12.1.08

P.386: Variedades turcas



10.1.08

P.385: Dias de pimenta na língua...


Nunca fui muito asneirenta e agora, dou por mim a blasfemar, clamando contra A, B e C e as p* das situações em que me vejo envolvida, num português bem vernáculo – para ser clemente comigo mesma –, capaz de fazer corar a minha querida mãe, que, a seu tempo, nem “porreiro” nos deixava dizer e agora, olha, é o que se vê…! Até o primeiro, tão cheio das responsabilidades que um microfone sempre próximo deve trazer, larga bojarditas dessas … Está o mundo perdido, é bom de ver. Por ele e por mim: mesma geração e uma balda de linguagem que não sei onde irá parar!

A verdade é que nunca como hoje "se me ofereceram" situações em que tão necessariamente fosse preciso um desabafo forte e sonoro, ainda que gritado para dentro, no habitáculo cúmplice do meu veículo ou entre as paredes clementes da minha casa. Dantes, qualquer asneira na minha boca soava a coisa forçada. Hoje soa-me bem! Faltava-me a raiva e a convicção que agora são genuínas.

Constato a mudança. Não me preocupa, a não ser pelas razões que a motivam. Creio no efeito terapêutico de uma rajada verbal reactiva.
Puta que pariu esta vida que hoje levamos!
(Imagem: Fractal - Crown of Thoms.
Origem não identificada)

7.1.08

P.384: Curiosidade :-)

(Agradecemos aos nossos clientes que não discutam
política em voz alta)
Testemunho de um tempo em que a preocupação nos restaurantes e cafés não era, ainda, o tabaco…

In Portugal – Século XX: Crónica em Imagens (anos 70),
de Joaquim Vieira

6.1.08

P.383: Cinzel e caneta

Por ser hoje dia 6 de Janeiro, como se fosse preciso razão.

Ergueu-se o poema, belíssima estátua, diante das palavras esculpidas de Miguel Ângelo. Há setenta anos.


Roma, 6 de Janeiro de 1938.

MOISÉS

Moisés de Miguel Ângelo e meu:
Força da terra a olhar o céu
Em desafio:
Ou Deus ou Nós, que somos naturais.
Animais,
Crocodilos do Nilo ou de outro rio!

Barbas em corda do rolar dos anos;
Pés terrosos, humanos,
Dos caminhos saibrosos da Verdade;
Tábuas da Lei na mão,
Tábuas da Lei do chão,
Única eternidade!

Cornos de fauno do brotar do cio:
Um farrapo a cobrir toda a nudez;
Veias no corpo, que a maré do rio
Enche dum sangue que não fica frio
Por mais que gele a pedra em que se fez!

Peito de quem bateu de encontro à fraga.
E a fraga se desfez em água pura;
Super-Homem do homem que ficou
Morto de fome quando o Pão faltou,
Porque o grito que deu não tinha altura!

Braços de lutador da Humanidade,
Pernas de quem andou no mar sem fundo:
E no todo que marca a tua idade
Um misto de Velhice e Mocidade
A dar a força adulta do teu mundo!

Grito da Natureza-Mãe;
Ânsia minha e de quem
No mais alto Sinai chamou em vão;
Sonho do mundo todo e de ninguém;
Pedra da Promissão!

Miguel Torga, Diário I

5.1.08

P.382: Lei N.º37/2007

Houve um tempo longe(1), em que a exuberância da liberdade recém adquirida e o desconhecimento dos malefícios ainda considerável, suscitaram situações extremas como as que vivi na adolescência, com "ganapos" a responder a chamadas orais dos professores entre duas baforadas de fumo de um cigarro. Não se sabia a extensão do mal, por um lado, e fumar perante um professor, acto socialmente reservado aos adultos até aí, era como um grito de pequeno vagabundo!
Na escola durou pouco a brincadeira, claro. Mas em casa, no carro, nos transportes… em reuniões, na televisão… em qualquer local, o cigarro, o fumo, tiveram, anos a fio, lugar inquestionável.
Há muito, porém, que há sinais de mudança. Tímidas medidas a princípio, mas já maduras. Foram sendo e crescendo e teriam forçosamente que chegar ao ponto a que chegaram, com o conhecimento científico cada vez maior e a consciência dos direitos próprios cada vez mais apurada.

Atravessaremos agora tempos extremados nos antípodas dos gestos libertários da minha adolescência, até que os ânimos se acalmem: os fumadores se consciencializem da justeza das medidas legais e os não fumadores reconheçam que uma baforada de fumo de cigarro de vez em quando é tão prejudicial como uma tarde de ar condicionado no centro comercial ou uma noitada de excessos alcoólicos.

(1) A frase é título de um livro de Luísa Dacosta.

4.1.08

P.381: Ohh...!

(Interjeição desiludida de uns quantos)

O rali Lisboa-Dacar deste ano foi anulado. Não há condições de segurança para que se os senhores do primeiro mundo possam ter mais este gostinho de meninos ricos, nas terras paradisíacas pela natureza e miseráveis por tudo o resto desse continente vizinho, e cada vez mais perdido, que é África.
A mim, como se diz por cá, nem me aquenta nem me arrefenta. Nem creio que o prejuízo dos 3.000 envolvidos no evento seja demolidor, nem acredito que os benefícios para as populações africanas “visitadas” seja considerável e, portanto, lamentável a sua perda. E, pessoalmente, perco apenas algumas imagens bonitas de dunas e sunsets e meninos negros pasmando e tremendo ao ronco dos motores…

Sou pouco conhecedora desse vizinho grande e desgovernado onde estive tão escassas vezes, mas as palavras de um outro, seu viajante e admirador, que se viu na rota do rali, mas em sentido contrário, e com motivações bem diferentes, fazem sentido dentro de mim:

«Penso na minha situação. Aqui vou de Dacar a Lisboa, a conduzir um Mercedes pelo deserto fora, eu que nunca toquei o volante de um Mercedes, agora possuo um, homologado para o itinerário de rali mais famoso do mundo. Participo no Lisboa-Dacar. Mas, ao contrário dos outros participantes, a minha prestação dilui-se no quotidiano antigo da Mauritânia sem qualquer ofensa à sensibilidade local. O rali real, o que passa em sentido contrário, invade um espaço de pureza e luz cristalina com os valores mais sombrios e degradados que a nossa civilização soube criar: o desperdício insensato de energias não renováveis; a competição como fonte de estímulo e estima pessoal; o luxo ostentado em territórios de miséria e pudor; o complexo de superioridade civilizacional; a arrogância sorridente e a falta de respeito por outras culturas, outros modos de vida. (…) O meu Lisboa-Dacar pessoal está apenas no início. Um rali onde a arrogância cultural não existe, a competição não é um valor, e o que importa não é conquistar o deserto, apenas amá-lo de perto».

África Acima, Gonçalo Cadilhe
(fotografia daqui)

P.380: Passagem


Não é uma passagem para a outra margem, mas demorou um pouco virar a página para o novo ano...
Aqui estou, para o que der e vier, com votos de vontade e forças, para um tempo bom!