P.381: Ohh...!
A mim, como se diz por cá, nem me aquenta nem me arrefenta. Nem creio que o prejuízo dos 3.000 envolvidos no evento seja demolidor, nem acredito que os benefícios para as populações africanas “visitadas” seja considerável e, portanto, lamentável a sua perda. E, pessoalmente, perco apenas algumas imagens bonitas de dunas e sunsets e meninos negros pasmando e tremendo ao ronco dos motores…
Sou pouco conhecedora desse vizinho grande e desgovernado onde estive tão escassas vezes, mas as palavras de um outro, seu viajante e admirador, que se viu na rota do rali, mas em sentido contrário, e com motivações bem diferentes, fazem sentido dentro de mim:
«Penso na minha situação. Aqui vou de Dacar a Lisboa, a conduzir um Mercedes pelo deserto fora, eu que nunca toquei o volante de um Mercedes, agora possuo um, homologado para o itinerário de rali mais famoso do mundo. Participo no Lisboa-Dacar. Mas, ao contrário dos outros participantes, a minha prestação dilui-se no quotidiano antigo da Mauritânia sem qualquer ofensa à sensibilidade local. O rali real, o que passa em sentido contrário, invade um espaço de pureza e luz cristalina com os valores mais sombrios e degradados que a nossa civilização soube criar: o desperdício insensato de energias não renováveis; a competição como fonte de estímulo e estima pessoal; o luxo ostentado em territórios de miséria e pudor; o complexo de superioridade civilizacional; a arrogância sorridente e a falta de respeito por outras culturas, outros modos de vida. (…) O meu Lisboa-Dacar pessoal está apenas no início. Um rali onde a arrogância cultural não existe, a competição não é um valor, e o que importa não é conquistar o deserto, apenas amá-lo de perto».
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