31.12.05

Página 41: Ser uma pessoa melhor

Vou trincando castanha caju e bebericando um branco do Douro fresquinho, enquanto considero o acerto da decisão de não fazer balanços… Ano ruinoso. Houve tsunami cá dentro - nem eu sabia o que isso era! - ataques suicidas quase diários, de que saio, sempre e só, mais um pouco mutilada. Vai sobrar o quê? Esta preguiça de escrever que enerva a semcantigas, uma mão no leme, cada vez menos firme, missas de 7º dia, carreira, uma revisão por outra às glórias passadas, como se fosse – desculpem-me! – benfiquista… Pior do que isto só os planos para o novo ano, que começam invariavelmente pela perda de cinco quilos, mas só quando acabar a castanha caju e o vinho do Douro!...
Sol e serenidade! Um bom ano para mim!

30.12.05

Virar de página: Bom ano! Bom ano! Bom ano!



28.12.05

Página 40: Amigas com palavras II


...eu sou, ela é, seremos sempre as mesmas miúdas aventureiras, o fósforo e a estopa dos pequenos incêndios nocturnos com que desafiávamos o tédio dos serões na cidade pacata.
A história habitual. Vida. Relações. Trabalho. E, ao virar da esquina dos meses, ou mesmo dos anos, o encontro aberto, franco, sem os embaraços do tempo passado! Vale a pena, acho eu. Quem diria?! E, independentes de tudo o que nos rodeia a cada momento, continuamos a cotejar, a respeitar ou a aplaudir as nossas diferenças.
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...mas deixemo-nos disso e então aqui vai a minha opinião: companheira das melhores saídas à noite, boa ouvinte sem preconceitos, admiro a tua escolha de independência desde cedo, a tua mobilidade e desembaraço, há pessoas que passam na minha vida e se pudesse tirava alguma coisa delas, alguma coisa boa, de ti tirava a tua postura sempre igual o teu segredo para seres sã e intocável pelas coisas azedas da tua terra!

23.12.05

Página 39: Poema de Natal

Escolhi este poema como poema de Natal pela sua alegoria, mil vezes glosada, e quase sempre tão expressiva, da viagem-vida.
Somos passageiros e passageiros com apeadeiro certo, em tempo e parte incertos! Temos, entre todos, esta irmandade no destino, ainda que tudo o resto nos separe.
Que a consciência disso nos aproxime e nos torne mais fortes no percurso tormentoso.
Se nos foi permitido sorrir e dar as mãos, por que seguimos indiferentes e carrancudos?!...
PASSAGEIRO
Sou um passageiro.
Isto em bom português
quer dizer: estou de passagem.
Virá um dia em que caduque
a minha validade.
Só o comboio é perene,
inextinguível.
Por isso é uma gratuita
crueldade a voz do altifalante
dizer de vez em quando:
- Senhores passageiros, isto.
- Senhores passageiros, aquilo.
Passageiro.
Caramba,
não preciso que mo lembrem.
Não me enterrem mais
a coroa de espinhos:
já me está apertada,
fundida com o crânio quanto baste.
A.M.P.C.

21.12.05

Página 38: Teimosia

Ilustração de Caco Xavier para "A Língua Girava no Céu da Boca" in O Amor Natural de Carlos Drummond de Andrade
***
Há uma brisa suave que te põe neste caminho e outra, ainda mais ligeira, que te tira dele.
Por que não aprendes a fugir dos ventos do amor?

18.12.05

Página 37: Diálogo Saramaguiano

Ontem tive uma tesão em abstracto, Tesão em abstracto, explica o que isso é e por que usas esse português vernáculo pouco habitual, Acho que o vernáculo me serve melhor que o outro para dizer o que senti, E o abstracto como o explicas, Como uma vontade sem rosto, Permite-me que te lembre que a vontade nunca tem rosto, É verdade, talvez vontade sem destinatário explique melhor, Duvido, Seja como for, tive-a, E depois, Depois nada, Nada, e por que mo dizes, Desabafo de amiga, nunca o diria se o não fôssemos, E essa vontade não pode tornar-se concreta, A vontade é concreta, Pensei que era abstracta, Enganaste-te, Vou fechar a janela, podem escutar-nos, Está bem.

17.12.05

Página 36: Incontinência...

Sei que estão a pensar tratar-se de uma "instalação", escultura moderna, por exemplo no Museu de Serralves...

Admito que tem cor, tem arte, implícitas e explícitas mensagens, interpretações tão diversas quantos os observadores...
Mas... não me levem a mal: foi apenas o armário dos sacos plásticos que... não pôde mais!!

16.12.05

Página 35: Fúria comunista... digo, consumista



As viagens têm destas coisas: pára aqui, pára ali... olha que engraçada! pode dar jeito! e tenho que retribuir à Mariazinha! e inda não tenho prenda p'ró gato... que gira! e mais barata ainda! como é possível?!..

Preparem-se, amigos, vem aí um Pai Natal da Rússia!

15.12.05

Página 34: Amigas de enfeitar

ou a minha "legião estrangeira":

Marrocos. Itália, Chipre, Tunísia

13.12.05

Página 33: SG


Aniversário do meu tempo sem cigarro! Horas angustiadas, de minutos contados, no princípio… Depois, pouco a pouco, muito lentamente, a libertação! Mas não o esquecimento…
Bom seria ser fumadora ocasional, gozar pensativamente um fumo sem premência, ao sabor de uma vontade ligeira. Ter o prazer dos apreciadores sem o desprazer do vício! Esfumaçar hoje, num monólogo interior, e esquecer até à longínqua conversa de amigas, daqui a semanas, ou até ao jantar naquela esplanada tão agradável em que comeremos e beberemos mais que a conta e, talvez por isso, riremos muito…
Queria expelir nuvens de fumo sem culpa, entregue a um gosto esporádico e inconsequente. Mas… não quero voltar às horas angustiadas, de minutos contados, num novo princípio… Fraquezas!

11.12.05

Página 32: Prevenção

9.12.05

Página 31: Amigas com palavras

Palavras laços, mastros, baba, casulo, colchão de água!... Trepamos pelas palavras até alturas desmedidas, sem vertigem!
Dos cimos vemos o perto das nossas quebradas rotinas e o longe dos sonhos mal medidos… Acrescentamos palavras, enquanto decidimos se nos deixaremos molemente escorregar, se voaremos a aventura. Espera-nos o que não sabemos. É bom, desde que o mundo possa seguir tranquilo.
A loucura a que podemos aspirar mede-se pela nossa capacidade de ousar, pelo desvelo que nos inspiram os meninos a que demos vida, únicos que realmente nos possuem…
Temos uma vontade fervilhante de amor, com a inocência de que ela é capaz.
O resto são os medos, as feridas, os esquecimentos guardados em lugar seguro para ocupar a velhice.
Para já, fazemos espirais com palavras!...