23.12.05

Página 39: Poema de Natal

Escolhi este poema como poema de Natal pela sua alegoria, mil vezes glosada, e quase sempre tão expressiva, da viagem-vida.
Somos passageiros e passageiros com apeadeiro certo, em tempo e parte incertos! Temos, entre todos, esta irmandade no destino, ainda que tudo o resto nos separe.
Que a consciência disso nos aproxime e nos torne mais fortes no percurso tormentoso.
Se nos foi permitido sorrir e dar as mãos, por que seguimos indiferentes e carrancudos?!...
PASSAGEIRO
Sou um passageiro.
Isto em bom português
quer dizer: estou de passagem.
Virá um dia em que caduque
a minha validade.
Só o comboio é perene,
inextinguível.
Por isso é uma gratuita
crueldade a voz do altifalante
dizer de vez em quando:
- Senhores passageiros, isto.
- Senhores passageiros, aquilo.
Passageiro.
Caramba,
não preciso que mo lembrem.
Não me enterrem mais
a coroa de espinhos:
já me está apertada,
fundida com o crânio quanto baste.
A.M.P.C.

4 Comments:

Blogger Impensamental said...

BOM NATAL, E ANO NOVO, ABRAÇO.

dezembro 23, 2005 11:21 da manhã  
Blogger JL said...

Bonito!

M,

Os meus votos de um Natal muito feliz e que os valores do presépio sejam os nossos orientadores no ano que se aproxima.

Beijinhos

dezembro 23, 2005 11:25 da manhã  
Blogger Mac Adame said...

Neste poema temos a ilusão de que as palavras se solidificam num conjunto de designações, na chave com que julgamos ser capazes de abrir o seu enigma. Deste modo, a poesia é capaz de acompanhar e cumprir uma verdadeira modernidade, uma vez que está sempre atenta à violência da linguagem e à sua disponibilidade, à palavra e ao seu acto, e daí sabe partir à descoberta de novos caminhos.

dezembro 25, 2005 1:16 da manhã  
Blogger Mónica said...

este macaco é um cromo disfarçado de quê? de adriano...celentano!
só agora li com atenção, o costume..., e desculpa lá mas que mau para acabar o ano lembrares que somos passageiros do tempo que está a acabar, xiça!

janeiro 07, 2006 12:37 da manhã  

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