30.7.08

P.441: Finalmente, em honra de Magalhães



Um dos (se não “o”) maiores navegadores de todos os tempos não teve até ao presente direito a grandes honrarias: nem casas, fundações, museus (Sabrosa destinou-lhe recentemente um espaço), muito menos a projecção de um filme (veja-se a quantidade de Colombos, por bem menos…).

Mas os ventos mudam – como ele bem sabia – e uma homenagem chega hoje cheia de uma insólita graça: “Magalhães” serão os computadores portáteis produzidos no país para a navegação dos pequenos portugueses que querem tornar-se grandes…

A eficácia da medida será discutível, os seus custos excessivos, as prioridades de gasto mal estabelecidas… Talvez. Fica, no entanto, a consoladora ideia de uma homenagem com um significado bem próximo do que foi esse navegador persistente e pragmático: uma ferramenta de trabalho a abrir caminhos por mundos desconhecidos… Melhor assim do que prender-lhe a memória em estátuas. Gostei.

P.440: Anjos e anjinhos



A publicidade “sexo dos anjos”, de prevenção da Sida, que corre hoje por aí arrancando sorrisos e despertando consciências, é um recurso pedagógico de alto valor.
Tudo nela concorre para proporcionar uma boa lição. É o conteúdo, tocando no cerne a questão dos valores: da fidelidade, da fiabilidade das aparências, da ténue charneira entre o bom e o mau, a normalidade e o seu contrário. De modo literal, o perigo de uma doença que depende de comportamentos associados a esses valores. É a forma, na ideia inteligente de “desconstruir” a conhecida máxima, brincar com o sério, jogar duplamente a sedução, na representação e junto do público.
Quando arte e saber se associam a uma boa causa e nos oferecem uma ideia capaz de nos melhorar, só resta mesmo permitir que a sua matriz se imprima no nosso interior e permaneça!

6.7.08

P.439: Grandezas de facto e de circunstância...















Revisita à Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra. Se um santuário se mede pela espiritualidade e pela emoção e enlevo que suscita, este é, seguramente, um dos meus. Aqui tudo é belo, mesmo as páginas densas e ilegíveis dos livros que não posso folhear, só ver ao longe, num enlevo platónico e numa abstinência sem conflito.
O bom cheiro da madeira, da temperatura certa, dos livros antigos sem bicho e sem mofo. As belas cores dos tectos simbólicos, explicados pela porteira, que acede a fazer de guia contagiada pelo meu entusiasmo… O desenho lindíssimo do encastrado das mesas de leitura, o recorte das estantes, a luz…
Pouso os olhos numa colecção de postais de livros raros. Entre eles a primeira edição de Os Lusíadas. Bate-me o coração mais depressa: é então ali que se encontra? Como pude não saber do facto na primeira visita?! Mas não. O livro pertence à Biblioteca, mas está guardado em cofre, de onde só sai em ocasiões especialíssimas, como essa última, que foi a do actual Primeiro Ministro ter solicitado que o dito fosse trazido à sua presença!
E é assim, grande Camões, que fico a saber que 436 anos após a publicação, continua a tua epopeia a ir ao Paço prestar homenagem ao poder!… E a esta pobre lusa que também/mais(?) prezava vê-la na sua primeira letra impressa coube comprar este postal e formular o desejo de que um dia, devidamente acautelada, a primeira edição do maior livro da nação possa ser vista por todos aqueles que ele celebra… Peço muito?!