Ando há que tempos para dizer isto, aqui ou noutro lugar. E se calhar já o disse, mas não por escrito e por escrito estas coisas têm outra gravidade: José Saramago é muito amigo das mulheres.
Sem ter estudado a fundo o assunto, sem conhecer toda a sua obra, criou-se-me - e tem-se avolumado - esta impressão com a leitura de romances seus.
Para além do hino ao amor que constituem, insistentes, repetidas, simples, com sabor a verdadeiras e tão belas, as dedicatórias a Pilar...
A Pilar
A Pilar, minha casa
A Pilar, até ao último instante
A Pilar, os dias todos
A Pilar, que ainda não havia nascido, e tanto tardou a chegar
(Como a repetição pode dizer a variedade e ser significativa!)
... é, sobretudo, nas personagens femininas dos seus livros que baseio a minha impressão. Gosto da acção dessas mulheres inteligentes, intuitivas, capazes de uma compreensão que vai bem para além do proferido, humanas, limpas, fortes na sua fragilidade! E o número delas assim caracterizadas, as capacidades que revelam, fazem com que o retrato colectivo do sexo, composto de individualidades tão bonitas, saia favorecido.
Se o nosso grande prosador do século XIX, Eça, pareceu tão claramente misógino, o Nobel do século XX revela ter, em relação às mulheres, a capacidade de ver, entender e recriar a bondade, a beleza e a força de que elas são capazes.