30.11.06

P.128: Indignação!

(folheto publictário recolhido hoje num Centro Comercial)


Fazem-se inquéritos, promovem-se acções, gastam-se recursos e horas e horas de gente paga para reflectir, falar e agir sobre o grande aumento de consumo de bebidas alcoólicas por gente nova…
E sobre esta oferta desenfreada e danosa, que grassa por aí às claras tentando os nossos miúdos, nada se faz!!!
P.S. - Para que não passe despercebido, são 10 bebidas!!!!!!!!!!

29.11.06

P.127: Sinalética tradicional

(Fotografia de sinal num autocarro novo,
destinado ao transporte escolar)
A sinalética do código da estrada insiste em representar os nossos meninos e meninas da escola como se de personagens de uma história da Anita se tratasse! Mas a Anita fez recentemente 50 anos e os nossos miúdos já não têm este ar! Roupas, cabelos, livros na pasta ou debaixo do braço, atitude protectora do rapaz, a que acrescento uma impressão de caminhar sereno e decidido, são tudo coisas passadas, como as águas!...
Já tinham reparado?

P.126: Percepções do tempo

As horas de véspera da ausência pesam como se ainda não tivessem começado a contar!...

28.11.06

P.125: Flexigurança

Foi a estranheza com a audição do neologismo que captou a minha atenção. Vou ouvindo, cada vez mais alheia, devo confessá-lo, a rotina das notícias diárias. Mas as palavras ainda me motivam e esta fez comichão no tímpano, quanto mais não seja porque obrigou o jornalista a uma pronúncia silabada.
A ideia por trás da palavra, porém, pareceu-me bem menos sonante. Não é que não seja boa… lá no país onde foi inventada… Mas não teremos aprendido já suficientemente e à própria custa que os modelos importados nos saem caros e não nos ficam bem?! Entretanto, a propósito, lá se expuseram as perfeições da sociedade dinamarquesa ao nosso olhar invejoso de latinos com séculos de crise…
Creio que não sou uma céptica empedernida. Mas, sinceramente, custa-me acreditar nestas coisas como alicerces de construção de uma mudança. O governo equaciona; talvez venha a adoptar. E a mim continua a parecer-me um quadro que se pendura na parede arruinada que devia ser alicerçada e construída de raiz. Mas talvez me engane… E bom era!

27.11.06

P.124: Episódios do quotidiano

A colecção era interessante e, apesar de cara, parecia valer a pena. Urbanamente, mostrei ao vendedor um interesse comedido, enquanto interiormente fazia as contas do meu deve-haver dos próximos tempos, programando já as possíveis reduções aqui e ali, para dar meios àquela compra, e a arrumação das estantes, para lhe dar espaço.
Na espera e para ser simpático, o vendedor perguntou-me por filhos. E informado da idade do meu, querendo fazer-me a simpatia de me afirmar jovem, saiu-se com esta pérola: Já dezasseis?! Pois é. Aqui faz muito frio, não é verdade? (acompanhamento com o adequado sorriso…)
Depois desta sensibilidade no trato, naturalmente não esperei que o homem percebesse que, naquele preciso momento, com aquela intervenção tão bem intencionada quanto desastrada, deitara a venda a perder! Despedi-me com vontade de lhe dizer que a sua profissão exige bem mais do que o fato e gravata da praxe, a pasta dos desdobráveis e a meia dúzia de frases decoradas sobre o produto. Mas calei-me.

P.123: Ruralidades


A couve guardada!

24.11.06

P.122: Afinal...

Quem convive com adolescentes facilmente se rende às coisas bonitas da sua cultura. Estou a pensar em hip-hop e em grafittis e não foi sem surpresa que me vi galgar a estranheza das primeiras impressões distantes, para ouvir realmente e ver com olhos de ver.
Há de tudo, claro. Mas quanta riqueza em algumas mensagens, por entre a floresta dos palavrões e as manchas nítidas das cores! Misturam-se a raiva, a irreverência – quem viveu a adolescência sem elas, alguma lhe há-de sobrar para a vida adulta… – uma visão crítica do Homem e muito, muito sonho.
Porque reúno as duas artes no mesmo texto? Apenas por não ter matéria para discorrer sobre elas em separado. Não porque lhes falte riqueza, mas porque me falta a mim conhecê-la.
(Gentilmente cedido pelo Rui, o autor)
Só mais uma coisa. Todos sabemos o grande "dói" do grafitti: ser uma arte de rua, geralmente não consentida e poluidora. Os verdadeiros amantes e artistas também não apreciam esse mero rabisco irritante, que apenas suja sem nada dizer. A nova fórmula é, a troco de poderem expressar-se livremente, sem suportarem os custos, mas também sem nada receberem, decorarem muros e paredes "encomendados". Já o vi em lojas, clubes, parques radicais... e o resultado pode ser uma boa alternativa ao monocromático cimento ou à tinta desgastada!
Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.
[Isto agora fui eu a aproveitar-me de Saramago... :-) ]

22.11.06

P.121: Utopia

É a palavra a concurso esta semana.
É difícil fotografar o ainda não realizado, o sonho, a busca de uma qualquer perfeição!
Vasculhei até hoje as minhas pastas. Ensaiei mesmo algumas experiências novas. Mas acabei por decidir outra coisa...
Esta teria sido uma das possíveis. É claro que estão a ver porquê.
Teríamos, evidentemente, que esquecer ou ignorar a temperatura perfeita do armazém. O cheiro inebriante do bom vinho. A chuva pouco convidativa, no exterior. A porta, apenas encostada, a facultar a saída.
E entregarmo-nos plenamente à sugestão da obscuridade que há em cada vida, das prisões em que comprometemos as nossas liberdades, do sonho de tantos, fixado num pequeno rectângulo de luz. Era fácil, afinal! E a procura continuou...

21.11.06

P.120: As mulheres nos romances de José Saramago

Ando há que tempos para dizer isto, aqui ou noutro lugar. E se calhar já o disse, mas não por escrito e por escrito estas coisas têm outra gravidade: José Saramago é muito amigo das mulheres.

Sem ter estudado a fundo o assunto, sem conhecer toda a sua obra, criou-se-me - e tem-se avolumado - esta impressão com a leitura de romances seus.

Para além do hino ao amor que constituem, insistentes, repetidas, simples, com sabor a verdadeiras e tão belas, as dedicatórias a Pilar...

A Pilar
A Pilar, minha casa
A Pilar, até ao último instante
A Pilar, os dias todos
A Pilar, que ainda não havia nascido, e tanto tardou a chegar


(Como a repetição pode dizer a variedade e ser significativa!)

... é, sobretudo, nas personagens femininas dos seus livros que baseio a minha impressão. Gosto da acção dessas mulheres inteligentes, intuitivas, capazes de uma compreensão que vai bem para além do proferido, humanas, limpas, fortes na sua fragilidade! E o número delas assim caracterizadas, as capacidades que revelam, fazem com que o retrato colectivo do sexo, composto de individualidades tão bonitas, saia favorecido.

Se o nosso grande prosador do século XIX, Eça, pareceu tão claramente misógino, o Nobel do século XX revela ter, em relação às mulheres, a capacidade de ver, entender e recriar a bondade, a beleza e a força de que elas são capazes.

20.11.06

P.119: Repentinices desmioladas

A Scooter da bruxinha estacionada à porta. A viatura da mãe ficou encostada à lareira…
:-)

E para quem não sabe, um conselho útil:
«Às terças e às sextas, não cases a filha nem urdas a teia».
Fica o aviso feito.
________ ... ________
(No fundo, preciosidades de um mundo rural aqui tão perto e que, a muito breve prazo, vão desaparecer, ou mostrar-se apenas artificialmente, pra turista ver...)

19.11.06

P.118: Para o meu amor

O amor é meu, mas as palavras são de Alberto Caeiro.
.--------------------------------------------------------.
(...)
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor -
Tu não me tiraste a Natureza...
Tu mudaste a Natureza...
Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim,
Por tu existires, vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais
Por tu me escolheres pra te ter e te amar
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as coisas.
(...)

18.11.06

P.117: Escrever


Há uns 15 dias, vi, num vídeo-clube, aquilo que pretendia ser um aviso aos clientes. Parecia coisa séria, envolvendo talvez reclamações, talvez danos, talvez reparações, em circunstâncias que não consegui descortinar quais fossem! Em formato A4, aquela dúzia de linhas de palavras ditadas seguramente por uma necessidade, não diziam nada de tão desconexas e mal escritas!
Nessa situação, foi incontrolável um sorriso trocista que perpassou pelo grupo. Mas geralmente os erros afixados ou publicados incomodam-me. Não aquelas pequenas desatenções, para as quais é fácil treinar a tolerância, até porque há sempre clarabóias de vidro em qualquer telhado, incluindo o meu, mas os outros: os crassos, os gordos, os deselegantes e repetidos, os que deturpam e impedem a comunicação.
Por vezes chega a percorrer-me a sensação assustadora de uma pandemia!
Que difícil é ensinar a escrever! Esgotadas as regras ortográficas, de acentuação, de pontuação, morfológicas, sintácticas, semânticas, pragmáticas (e todas interligadas)… ficamos ainda a braços com as estilísticas!
Mas mais do que as implicações multifacetadas da escrita, ou talvez justamente por ser uma competência trabalhosa, o problema principal coloca-se a nível da vontade e urge recriar em relação a ela critérios de rigor e necessidades de brio.
Voltarei ao assunto.

17.11.06

P.116: Chuva

Oposta à neve, que bate leve e pousa, como é de sua tradição, ou ao raio de Sol que acaricia em silêncio, ou à brisa que afaga, a bátega de chuva, a reboque do vento, é chicotada que fustiga vidraça e alma.
Em dias assim, não dá vontade de “ir ver”

16.11.06

P.115: Cidades



Sinto assim, também. E gostei de ler.

«Grande parte da inspiração que tenho recebido viajando provém da minha passagem por uma cidade. Não é um acaso. Como ficar indiferente às cidades? Atraindo pessoas, provocando contactos, permitindo trocas, conservando memórias, elas reúnem o melhor que a humanidade produziu: ideias revolucionárias, invenções geniais, linhas arquitectónicas, receitas, curas, descobertas, cruzamentos de raças, as provocações intelectuais duma tertúlia, a rivalidade criativa de dois compositores em contacto directo, a melhoria dum produto provocada pela concorrência entre várias oficinas de artesãos, a luminosidade das praças e o claro-escuro dos becos, a solenidade dos templos e catedrais, a ambiguidade dos lugares de perdição. Cada cidade é um enigma imóvel, um cromossoma vivo, uma memória inquieta».
A Lua Pode Esperar, Gonçalo Cadilhe

15.11.06

P.114: Ia a manhã a meio


- Pode sim, mas não me ponha na televisão!...

14.11.06

Página 113: Vida(s)


E se a M. ganhasse rosto verdadeiro? Se caísse, neste quase início de Inverno, a máscara, por trás da qual, escondeu a falta de harmonia dos traços reais? Ficaria a perder em beleza e em mistério o seu perfil. Mas é tão pouco o que ela esconde! Porque a verdadeira M. é, sempre foi, a das palavras, a dos sentidos, a das escolhas, a dos silêncios prolongados a das imagens dos mundos em que viveu.
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Há dois dias, M. leu, compreendeu e aprovou um texto belíssimo de um desconhecido blogueiro que viu o seu espaço invadido, a sua escrita insultada, as opiniões na lama, ao ponto de ter que mudar as regras da casa e moderar as entradas! E, surpreendentemente, logo a seguir, quando nada o faria prever, a própria M. teve que abandonar um espaço partilhado com outros, assim uma espécie de República, pelas mesmíssimas razões, a que nem todos, diga-se, foram sensíveis!
Seja! Coincidências, nem tristes nem alegres.
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M. volta à charla! E com vontade de ser quem é… É importante estar viva!

12.11.06

Página 112: Hoje


Ser. Parecer. Transparecer. Projectar.
Imperfeição. Tempos.