21.11.06

P.120: As mulheres nos romances de José Saramago

Ando há que tempos para dizer isto, aqui ou noutro lugar. E se calhar já o disse, mas não por escrito e por escrito estas coisas têm outra gravidade: José Saramago é muito amigo das mulheres.

Sem ter estudado a fundo o assunto, sem conhecer toda a sua obra, criou-se-me - e tem-se avolumado - esta impressão com a leitura de romances seus.

Para além do hino ao amor que constituem, insistentes, repetidas, simples, com sabor a verdadeiras e tão belas, as dedicatórias a Pilar...

A Pilar
A Pilar, minha casa
A Pilar, até ao último instante
A Pilar, os dias todos
A Pilar, que ainda não havia nascido, e tanto tardou a chegar


(Como a repetição pode dizer a variedade e ser significativa!)

... é, sobretudo, nas personagens femininas dos seus livros que baseio a minha impressão. Gosto da acção dessas mulheres inteligentes, intuitivas, capazes de uma compreensão que vai bem para além do proferido, humanas, limpas, fortes na sua fragilidade! E o número delas assim caracterizadas, as capacidades que revelam, fazem com que o retrato colectivo do sexo, composto de individualidades tão bonitas, saia favorecido.

Se o nosso grande prosador do século XIX, Eça, pareceu tão claramente misógino, o Nobel do século XX revela ter, em relação às mulheres, a capacidade de ver, entender e recriar a bondade, a beleza e a força de que elas são capazes.

10 Comments:

Blogger Irene Ermida said...

Interessante deveras esta abordagem! Já li e gostei bastante de algumas obras de Saramago, embora nunca tenha conseguido ler outras, mas nunca me apercebi (além das dedicatórias) dessa visão particular da figura feminina. Sem dúvida que é mais uma perspectiva curiosa da sua obra. E fica no ar a pergunta: será que existem mais como ele??? :)

novembro 21, 2006 5:47 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

E se fosse o lobo com pele de cordeiro?
Ou apenas mais um piscar d'olho à 'mnina do marketing' que há em todos nós?

novembro 21, 2006 7:37 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

DESCULPE!
Ignore.
Desviei-me do tema...

novembro 21, 2006 7:40 da tarde  
Blogger Maria Manuel said...

Irene
Mais um tema de reflexão! :-)


Pirata
Se preferir que retire os seus comentários, diga, por favor.

novembro 21, 2006 9:04 da tarde  
Blogger JL said...

Não sou apreciador da sua (dele) escrita. Mas se é assim, como dizes, ganha um ponto na minha consideração. Há que tratar bem as flores!!!

novembro 21, 2006 10:32 da tarde  
Blogger Irene Ermida said...

Nós e as nossas reflexões... Mas também pode ser mérito dela e não a invulgaridade dele! Ainda vamos descobrir! Que tal irmos lá tomar chá gelado com eles e perguntar-lhes?

novembro 22, 2006 1:09 da manhã  
Blogger Belzebu said...

Não sendo um leitor fiel da obra de Saramago, devo concluir que isto só lhe fica bem!

Saudações infernais!

novembro 22, 2006 1:32 da manhã  
Blogger Maria Manuel said...

Alguém que se auto-intitula matacu deixou um comentário que, por razões que desconheço, o blogger não consente publicar!
Que não seja por isso! Aqui vai transcrito na sua última versão (isto porque teve 4, separadas de alguns minutos!):

«Ola!
Desculpa a intromissão, mas que texto interessante!
Nunca notei que o Saramago tratasse bem as mulheres em geral,trata uma a...Pilar.
Talvez o escorpiano Saramago veja no amor a uma pessoa, a redenção da vida.A veneração dele pela Pilar,de certo modo serviu como catarse e renovação.beijos»

novembro 22, 2006 2:21 da tarde  
Blogger henry said...

irene
maria manuel

"será que existem mais como ele?"
é um tema interessante de reflexão
e certamente haverá mais como Saramago.
No campo das artes, faço questão de lembrar o meu pintor preferido, Salvador Dalí.
Gala
foi a sua musa permanente. A dedicação do pintor durante toda a vida a esta mulher é de tal ordem que chegou a assinar quadros com o nome de Gala-Dalí pois, como explica, sem Gala, Dali não seria o que é.
:-)

novembro 23, 2006 12:36 da manhã  
Blogger Carlos Sampaio said...

Existe em quase todos os romances de Saramago (não digo todos porque me pode estar a falhar a memória) uma personagem feminina que, na minha opinião "é sempre a mesma". Em contextos muito variados, existem traços comuns suficientemente numerosos e fortes para eu afirmar assim que "é sempre a mesma".

Uma particularidade ainda bastante frequente é serem jovens e atraídas por homens mais velhos! :)

O cúmulo é, em "As Intermitências da Morte", ser seduzida a própria morte (feminina...)!

novembro 23, 2006 12:51 da tarde  

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