P.120: As mulheres nos romances de José Saramago
Ando há que tempos para dizer isto, aqui ou noutro lugar. E se calhar já o disse, mas não por escrito e por escrito estas coisas têm outra gravidade: José Saramago é muito amigo das mulheres.
Sem ter estudado a fundo o assunto, sem conhecer toda a sua obra, criou-se-me - e tem-se avolumado - esta impressão com a leitura de romances seus.
Para além do hino ao amor que constituem, insistentes, repetidas, simples, com sabor a verdadeiras e tão belas, as dedicatórias a Pilar...
A Pilar
A Pilar, minha casa
A Pilar, até ao último instante
A Pilar, os dias todos
A Pilar, que ainda não havia nascido, e tanto tardou a chegar
(Como a repetição pode dizer a variedade e ser significativa!)
... é, sobretudo, nas personagens femininas dos seus livros que baseio a minha impressão. Gosto da acção dessas mulheres inteligentes, intuitivas, capazes de uma compreensão que vai bem para além do proferido, humanas, limpas, fortes na sua fragilidade! E o número delas assim caracterizadas, as capacidades que revelam, fazem com que o retrato colectivo do sexo, composto de individualidades tão bonitas, saia favorecido.
Se o nosso grande prosador do século XIX, Eça, pareceu tão claramente misógino, o Nobel do século XX revela ter, em relação às mulheres, a capacidade de ver, entender e recriar a bondade, a beleza e a força de que elas são capazes.
8 Comments:
Interessante deveras esta abordagem! Já li e gostei bastante de algumas obras de Saramago, embora nunca tenha conseguido ler outras, mas nunca me apercebi (além das dedicatórias) dessa visão particular da figura feminina. Sem dúvida que é mais uma perspectiva curiosa da sua obra. E fica no ar a pergunta: será que existem mais como ele??? :)
Irene
Mais um tema de reflexão! :-)
Pirata
Se preferir que retire os seus comentários, diga, por favor.
Não sou apreciador da sua (dele) escrita. Mas se é assim, como dizes, ganha um ponto na minha consideração. Há que tratar bem as flores!!!
Nós e as nossas reflexões... Mas também pode ser mérito dela e não a invulgaridade dele! Ainda vamos descobrir! Que tal irmos lá tomar chá gelado com eles e perguntar-lhes?
Não sendo um leitor fiel da obra de Saramago, devo concluir que isto só lhe fica bem!
Saudações infernais!
Alguém que se auto-intitula matacu deixou um comentário que, por razões que desconheço, o blogger não consente publicar!
Que não seja por isso! Aqui vai transcrito na sua última versão (isto porque teve 4, separadas de alguns minutos!):
«Ola!
Desculpa a intromissão, mas que texto interessante!
Nunca notei que o Saramago tratasse bem as mulheres em geral,trata uma a...Pilar.
Talvez o escorpiano Saramago veja no amor a uma pessoa, a redenção da vida.A veneração dele pela Pilar,de certo modo serviu como catarse e renovação.beijos»
irene
maria manuel
"será que existem mais como ele?"
é um tema interessante de reflexão
e certamente haverá mais como Saramago.
No campo das artes, faço questão de lembrar o meu pintor preferido, Salvador Dalí.
Gala
foi a sua musa permanente. A dedicação do pintor durante toda a vida a esta mulher é de tal ordem que chegou a assinar quadros com o nome de Gala-Dalí pois, como explica, sem Gala, Dali não seria o que é.
:-)
Existe em quase todos os romances de Saramago (não digo todos porque me pode estar a falhar a memória) uma personagem feminina que, na minha opinião "é sempre a mesma". Em contextos muito variados, existem traços comuns suficientemente numerosos e fortes para eu afirmar assim que "é sempre a mesma".
Uma particularidade ainda bastante frequente é serem jovens e atraídas por homens mais velhos! :)
O cúmulo é, em "As Intermitências da Morte", ser seduzida a própria morte (feminina...)!
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