Página 111: Sobre o tempo e o vagar.
Salvador Dali
Persistence of Memory1931
---------------------------------
Quando eu era miúda, o tempo que os adultos tinham ou não tinham para as coisas dizia-se vagar. A minha avó, que era mulher de muitos trabalhos e pouca preguiça rematava muitas vezes os nossos pedidos com um peremptório “e eu lá tenho vagar p’ra isso!”, ou contemporizava que “quando tivesse vagar”…
Hoje, não sei se só por estas bandas, o vagar foi proscrito da conversa e não parece ser apenas uma questão de moda linguística. O vagar é, era, um tempo gasto sem pressões e sem pressas, a disponibilidade de um tempo dedicado.
Mas o tempo encheu-se de outras coisas e passa ligeiro, para não se atrasar. E o vagar, esse, perdeu o tempo de ficar!
(imagem googleada)
6 Comments:
é como quem diz tens vagar p'ra blogar :-)
Já nem sei quam comanda quem! Se nós o tempo ou o tempo a nós.
bom feriado
Há sempre "vagar" para mais qualquer coisa ;)
Eu vou tentando encontrar vagar para as coisas, embora reconheça que o tempo voa e nem sempre permite.
Saudações infernais!
(De)vagar se vai ao longe... (!?)
É preciso saber acelerar e também conseguir travar. Só assim se chega à meta.
Sobre a noção do tempo leio, hoje, n'As Pequenas Memórias de Saramago: Não sei se o perceberão as crianças de agora, mas, naquelas épocas remotas, para as infâncias que fomos, o tempo aparecia-nos como feito de uma espécie particular de horas, todas lentas, arrastadas, intemináveis. Tiveram de passar alguns anos para que começássemos a compreender, já sem remédio, que cada uma tinha apenas sessenta minutos, e, mais tarde ainda, teríamos a certeza de que todos estes, sem excepção, acabavam ao fim de sessenta segundos...
Enviar um comentário
<< Home