P.467: Caim, sem polémica

Bom, agora que já o li, posso expressar com mais certeza a minha opinião sobre a polémica: não entendo por que existiu. Creio que, se quem se apressou a insurgir-se contra o livro e contra o autor tivesse tido o cuidado de ler primeiro, os clamores não teriam sido tão altos nem os propósitos tão despropositados.
Não é uma das narrativas “maiores” de Saramago – na lista das minhas conhecidas e preferidas –, mas é um livro divertido, sobretudo nos primeiros capítulos, que revisita criticamente algumas das histórias terríveis do Antigo Testamento.
De que se pode acusar o autor? Não, por certo, do desconhecimento do texto bíblico, como alguém invocou. Concedamos que um católico fervoroso poderia apontar-lhe a leitura literal dessas histórias, despidas de toda a interpretação simbólica que lhe atribuem os religiosos. Pode, sim, mas apenas isso, no tom em que se discutem as diferentes opiniões. Porque a mesma liberdade que rege uma leitura, deve reger a outra; a mesma liberdade que pega nessas histórias para delas retirar exemplos de defeitos humanos e lições que pretendem corrigi-los, pode pegar nelas para as transformar literariamente em enredos em que o justiceiro Deus se torna um anti-herói da narrativa, um mau da fita.
2 Comments:
Olá!!
Pena que não tivesses estado na apresentação em Penafiel "Escritaria", foi uma beleza. Uma demonstração de grandeza moral irrepreensível. A polémica é tão ridícula como foi a do "Evangelho" e o homenzinho não sei quê, o cavaqueiro Lara. Sabes que eu li a bíblia que andava lá por casa, aos tombos - que o meu pai não era nada de religiões - quase quando aprendi a ler. E reli mais tarde: acima de qualquer polémica ou transfiguração, é uma leitura de maldade, sim! A religião católica tem telhados de vidro e faria melhor se cuidasse de desempenhar na sociedade, o papel da "salvação", da esperança e conforto, de alerta para "os pecados" (dinheiro sujo, miséria, tráfico de crianças, escravatura ...and so on...) em vez de mudar de capa (como no nazismo) e exortar à cegueira e à pobreza de espírito como faz agora, do alto da sua cátedra.
Bjinho
Palmas para a Bettips. Vénia a ti!
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