P.390: A magia das T.I.C.
A informática nas escolas é uma das coisas mais desgovernadas que conheço. Uma verdadeira tragicomédia, género que dantes se dizia caído em desuso, mas que foi agora recuperado em representações diárias, provocando, como é de regra, o riso e o choro de actores e espectadores do drama.
De certo modo a situação espelha o país política e socialmente, numa amostragem muito interessante das diferenças, das opções impensadas, da gestão improvisada, do crescimento rápido mas “insustentado”… e da dose de magia que ainda se insinua nas nossas vidas, quando encontra caminho através da falta de conhecimento ou apesar dele.
Às vezes parece-me que estamos, neste domínio, como na anedota das cooperativas portuguesas da Reforma Agrária – uma história de vacas e de bois e de muito descontrolo “produtivo”! :-)
Vêm as aplicações de software com programas interessantes, não “correm”nas nossas máquinas obsoletas. Reclama-se por hardware mais “performante”, mas este deve vir em comboios espanhóis, porque llega quando llega… Apareceu finalmente? Pena é que os programas tão bons quando o equipamento foi pedido já estejam desactualizados… O Ministério publicou um guião importante que querias mostrar aos colegas? Esquece, o computador não tem a aplicação necessária para abrires o ficheiro e também não tens autorização para a instalar. Ai tinhas o trabalho feito no Windows Vista, ah?! Anginha! Quem te disse que cá no sítio havia algum PC com essa coisa?... Sim, sim, devíamos controlar a pontualidade dos alunos, mas com o tempo que leva a abrir os sumários electrónicos, os retardatários encontraram um aliado, n’est-ce pas?
Depois há as diferenças de conhecimento. Muito muito, aquilo que se diz “muito”, ninguém sabe. Uns poucos sabem alguma coisa. Uns mais sabem mais um pouco. E, em conjunto, estes são os reis na terra de cegos dos outros. Falo dos profs, claro. Que os miúdos, esses, saibam ou não, nunca se atrapalham. Ou, por outra, sim: quando a máquina, com vagares alentejanos, bloqueia sob os seus dedos apressados e os faz passar o intervalo todinho a retocar e imprimir o trabalho que era para ontem…!
Depois, temos os golpes de mágica: talvez não os tenhamos secretos, mas temos ficheiros desaparecidos, ratos alucinados, teclados de letras trocadas, computadores que ignoram as pen-drive (o que tu queres sei eu!...) e pens que se recusam a abrir… (ah pois é…). Mas o milagre, o verdadeiro, é quando tudo se resolve desligando e voltando a ligar! Aí é que a máquina nos domina e, estando atentos, podemos ouvir o seu riso escarninho!... Digam lá se isto não é coisa de outro mundo…?!
4 Comments:
...se não há computadores na escola, os professores dizem que não existe condições para fazer nada, se há computadores na escola, existem mas dizem que não funcionam, (se calhar até funcionam mas os colegas não sabem trabalhar com eles), se nos vendem o computador a 150 euros +17x30 mês com Internet BL (nunca foi dada tal oportunidade aos professores), é porque tem o vista que não funciona com outros sistemas operativos…ENFIM,UNS ETERNOS INSACIADOS.
BJ Zé Armando
Daí abaixo... até aqui, é uma alegria ler-te!
E sim, os engºs. também recomendam "desligar tudo" e depois recomeçar. Mas as trapalhices do sistema informativo, ou seja, "das escolas equipadas com computadores", cai por terra!
Tens o dom óbvio de te exprimeires muito bem. Constato apenas. O que não quer dizer que concorde sempre com o que escreves. Afinal o que querem os professores? É que eu ainda não entendi...
Não era necessário fazer uma reforma? - Nota importante: não gosto deste governo -
Não deveriam os sindicatos - que no vosso caso são 14, o que torna as lutas uma impossibilidade - ofercer alternativas? É que a ideia que passa para o grande público é a de que os profs querem sempre mais dinheiro e menos trabalho. Eu sei que não é assim tão linear, mas as greves à sexta-feira não ajudam muito a dar uma boa imagem da classe, pois não?
Um abraço
O que querem os professores?
Não respondo por esse plural, com tanta dificuldade em se constituir classe profissional, mas apenas por mim e de uma forma necessariamente resumida.
Esta professora quer reformas ponderadas, negociadas, explicadas e bem preparadas com todos os intervenientes. Quer, sobretudo, reformas a que seja dado tempo de surtirem os seus efeitos… porque em mais de vinte anos de trabalho se cansou já de ser e de fazer dos seus alunos cobaias das ideias políticas para a educação, quase sempre copiadas de modelos estrangeiros, que os decisores responsáveis resolvem ser de toda a urgência implementar, sem dar tempo às anteriores de serem avaliadas. Quer que a sua formação contínua obrigatória continue a ser paga pelo empregador, desde que o seu interesse científico-pedagógico o justifique e possa decorrer em horário laboral, sem prejuízo de aulas e dos alunos. Quer que o seu salário seja actualizado de forma justa, que haja acesso a e pagamento de serviço extraordinário. Quer mais e melhores condições de trabalho, a começar por aquelas mais básicas: um espaço quente, amplo, acolhedor.
Sendo possível voltar atrás, quereria uma carreira única, com subida de escalões por concurso voluntário e mérito reconhecido e não esta carreira dupla de professores e professores titulares, artificialmente criada por razões meramente economicistas.
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