Página 78: Fatalismo ou experiência de vida?
«Riram ambos. Depois Carlos, outra vez sério, deu a sua teoria da vida, a teoria definitiva que ele deduzira da experiência e que agora o governava. Era o fatalismo muçulmano. Nada desejar e nada recear... Não se abandonar a uma esperança — nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge, com a tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e de dias suaves. E, nesta placidez, deixar esse pedaço de matéria organizada que se chama o Eu ir-se deteriorando e decompondo até reentrar e se perder no infinito Universo… Sobretudo não ter apetites. E, mais que tudo, não ter contrariedades.
Ega, em suma, concordava. Do que ele principalmente se convencera, nesses estreitos anos de vida, era da inutilidade de todo o esforço. Não valia a pena dar um passo para alcançar coisa alguma na Terra — porque tudo se resolve, como já ensinara o sábio do Ecclesiastes, em desilusão e poeira».
Eça de Queirós, Os Maias - Episódios da Vida Romântica
6 Comments:
Sim.Também.
a vida é feita de quedas...precisas de comprar uma joalheiras um,a scoptoveleiras...e umas caneleiras a ver se minimizas as coisas...
beijo
cá pra mim encomendaram-te o sermão...
Nada! Tomara que o sermão estivesse aprendido, a teoria interiorizada e a prática seguisse tranquila... com ou sem investigação sobre se o fatalismo é ou não "muçulmano"...
pois assenta-me bem a carapuça
:-)
Há muita verdade nas palavras queirozianas. Mas, ainda assim, e sabendo nós que o pó da terra tudo há-de resolver, vamos cruzar os braços e esperar?
Não me parece que seja mulher para isso. A luta continua. Até ao fim!
Um beijo
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