24.10.07

P.362: Faça o favor de sorrir...!

(Imagem do Google, não identificada)

modas que se tornam manias, modelos que se exageram até ao ridículo. Eça de Queirós retratou bem a tendência, por exemplo naquele quadro irónico em que desenha, n’Os Maias, a desproporção das botas dos lisboetas, modelo importado e aumentado sem gosto.
A caricatura ultrapassa muito o campo restrito da moda de imitação no vestuário e há, de facto, domínios em que as tendências que se instalam e a procura de ser muito “moderno” têm efeitos ainda mais negativos na perda de um equilíbrio que o bom senso aconselharia.
Em muitos sectores de actividade muitas coisas eram feitas seguindo um projecto mínimo, pelo menos a nível do papel. Sabia-se o objectivo, pensava-se a actividade e o que era necessário para a concretizar e, muitas vezes com uma simples comunicação e aprovação oral, passava-se sem mais delongas à acção.
A avaliação dos resultados seguia, frequentemente, o mesmo procedimento simplificado. Não falo, naturalmente, dos grandes empreendimentos, mas das pequenas coisas. Talvez fosse amadorismo. Talvez se arriscasse algum desperdício de meios. Talvez. Mas muita coisa acontecia e muitos benefícios daí resultavam, ainda que não rigorosamente quantificados.
Desde que alguém, lá fora, se lembrou de considerar que todos os organismos devem ser geridos como empresas e alguém, cá dentro, descobriu esse filão de imitação – parece que sempre fomos bons nisso –, nada se faz sem projecto (engorde-se bem a palavra, porque ainda que se trate de trocar a sanita e três azulejos, tem que parecer muito importante…). Enquadramento, muitos objectivos complicados, estratégias, actividades minuciosamente descritas, dinamizadores, público-alvo, inquéritos de satisfação e relatórios para a avaliação… muito, muito papel.
Num determinado serviço alguém se lembrou que seria bom introduzir uma “Caixa de Sugestões”. Ingenuamente, fez oralmente a proposta ao chefe. O que daí resultou foi uma carga de trabalhos: explicaram-se os antecedentes e fez-se o enquadramento; definiram-se objectivos gerais e objectivos específicos; fez-se a descrição sumária; determinaram-se as componentes e acções; calculou-se o financiamento…
De tudo isto, resultou uma caixa, 30 x 25 x 20 em material acrílico, destinada a receber pequenos papéis. De tudo isto resultou ainda uma “folha de registo”, para o funcionário ingénuo fazer o acompanhamento das sugestões/reclamações. Na última linha preenchida pode ler-se: Motivo da reclamação – falta de sorrisos dos funcionários”… Alguém se admira…??

1 Comments:

Blogger bettips said...

Ora aí está um empreendimento que, devidamente enquadrado e com objectivos específicos de melhorar a funcionalidade democrática de opiniões dentro duma empresa, (ufa, uma vírgula) se saldou numa mais-valia transparente, acríclica, acrítica às críticas e criteriosamente seleccionada entre vários projectos a concurso, sendo que ex-aequo foi atribuída uma menção honrosa ... digo?
à tal sanita ao fundo do corredor, à direita do arquivo morto! A bem da Empresa.
(assinatura ilegível mas com Dr. ou Engº perceptível).
Sorriso e Bjs

outubro 25, 2007 11:59 da tarde  

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