P.144: Das três às cinco...
Roupas e rapariguinhas do shopping
Vem a gente de um frio de rachar no exterior e, mesmo deixando os agasalhos maiores no carro, mal entra no shopping, começa a suar. Nas lojas a coisa piora.
Passeiam-se os olhos pelas secções com prateleiras de roupas monocromáticas, à procura de qualquer coisa de vestir que nos chame a atenção e logo se percebe que cada modelo existe em tal e tal e tal cor, tudo organizado em parada de rigoroso alinhamento.
Depois, percorrem-se os números e volta-se a olhar em volta, para nos certificarmos de que não fomos inadvertidamente parar à secção de criança. Não! Estamos bem. O nosso número é que se arrisca a ser o último do expositor e vamos com muita sorte se servir… E ainda nada nos cativou verdadeiramente, já estão as meninas, solícitas, cumprindo ordens da gerente, a pôr-se à nossa disposição.
Seguro na mão uma peça de roupa e tenho a meu lado a empregada que se dispõe a segurá-la, tirar o cabide, conduzir-me ao provador. Vejo, de relance a etiqueta com o preço e olho a empregada. Calculo o seu salário e concluo que aquele artigo custará cerca de um terço do que ganha no mês… Três peças daquelas e ficaria a miúda sem cheta! Estranha e angustiante, a sensação…
Mas quem apenas as vir, sem pensar nestas misérias, quem nunca tiver que as confrontar com situações difíceis e quase transcendentes, como por exemplo a de uma troca de produto, que tem que passar pelo sistema informático com tudo a bater certinho, cêntimo por cêntimo (o que consegue pô-las a suar quase tanto como as clientes muito agasalhadas), quem apenas se firmar naquelas elegâncias trabalhadas de corpos magros, de rostos maquilhados, de cabelos penteados, de mãos manicuradas, de olhares altivos, elegâncias pouco vestidas e bem adornadas, não tem dúvidas de que estas rapariguinhas são as verdadeiras rainhas do lugar!
1 Comments:
Este é um tema em que a minha experiência é muito reduzida. Compro pouco e quando compro tento que seja “tiro e queda”. Quanto a rapariguinhas do shopping, acho que há de tudo. Desde olhares obtusos e felizes pela simples proximidade do “glamour”, até olhares inteligentes e de angústia disfarçada por poder e querer muito mais. Depois, há atrapalhações por limitações intrínsecas e outras talvez mais por poupança e improviso de formação.
Rainhas? Algumas talvez o sejam ... e, também, glória não é glória se não for efémera!
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