3.12.06

P.131: Ser jovem em Portugal.

Aqui está um estudo, com resultados apresentados hoje, que não causa grandes surpresas, pelo menos naqueles aspectos mais ventilados, já que não o conheço na íntegra para poder afirmar que tudo estava já visto e era sobejamente conhecido.
Não deixa, porém, de ter algum impacto, sobretudo para os pais na minha faixa etária, ver tudo assim posto em números certos, e algo assustadores, que retratam a nossa realidade.
Habituámos os filhos ao conforto e as condições externas são bastante adversas. O resultado está à vista: a liberdade e o espaço próprio conquistam-no dentro das nossas quatro paredes e gerindo a nossa conta bancária!...
Acumulando anos de trabalho e de independência conquistada bem cedo, vai caber-nos, ainda, aligeirar por muito tempo o fardo das dificuldades da vida dos filhos, na formação cada vez mais prolongada, no trabalho que não há ou é precário, no carro, com prestações enormes, na casa que é caro adquirir ou arrendar… E em tudo o que é bom e que lhes proporcionámos, mas que eles não podem manter sozinhos de forma fácil e, como tal, continuarão a esperar de nós! Porque o problema reside também, ou principalmente, nessa facilidade que não nos foi legada, mas que lhes demos a beber desde o primeiro biberão de leite!
Pensar em tudo isto quando sobre a geração paira o fantasma de uma segurança social em falência e quando mal se acabou de saber, e ainda não de digerir, que se vai trabalhar até aos 65 anos (desde os 22, façam-lhe a conta!) é quanto basta para deprimir um optimista!

Mas convém não ceder a angústias e, sobretudo, não abusar de anti-depressivos, sob pena de nos tornarmos nós próprios instáveis, precários, e deixarmos afundar o nosso barco…
Que diria a minha avozinha, também professora, sob o regime de Salazar/Caetano, que tantas vezes exibia perante a nossa vida fácil de crianças de um novo regime, que havia trabalhado 40 anos (isto afirmado com grande ênfase e solenidade), se soubesse que a neta vai ter que chegar (logo se verá, mas antes lá chegue!) aos 43?!...
E os bisnetos da minha avó, que poderão esses esperar…?
...
(ilustração: imagem da capa do livro L'enfant lecteur, ed. autrement)

5 Comments:

Blogger Carlos Sampaio said...

Como eu digo meio a brincar, meio a sério, a geração que agora tem 40 anos, casou-se aos 20's, teve filhos aos 30, ou antes, e está divorciada nos 40...!
Ou seja decidiu, assumiu e construiu/reconstruiu. O carro era comprado e alimentado com o que se ganhava e era prioritário também comprar uma casa. O que se ganhava, e não era muito, era poupado para investir.

A geração seguinte tem carro e gasolina e tudo antes de ter ganho um centavo, habituou-se a um padrão de lazer financiado pelos pais e, assim, é comódo não assumir a independência e ficar em casa dos pais até aos 30's eeeee.

E a "culpa" é nossa!

dezembro 04, 2006 7:55 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

òbvio.. tudo oq ue este estudo indica já nós, jovens, percebemos (e sofremos) há muito

dezembro 04, 2006 10:03 da manhã  
Blogger Irene Ermida said...

Quando ouvi na rádio a súmula das conclusões deste estudo pensei: A nossa geração, que andou a fazer?! Concordo plenamente com o que escreveste bem como com o comentário do Carlos.
Uma geração de ideais e de conquistas para legarmos o quê à geração vindoura? Sem dúvida, há coisas positivas, mas não tivemos a coragem de incutir nos nossos filhos os mesmos valores e princípios. Seá que estou a ser muito pessimista?!

dezembro 04, 2006 5:53 da tarde  
Blogger Maria Manuel said...

Agradeço à Mikas, nova visitante, o seu ponto de vista de jovem sobre o assunto.
O facto de realçar aqui as dificuldades deste estado de coisas para os pais, não significa que ignore as dificuldades de quem o vive como jovem, filho... As dependências nunca são infensivas, sejam elas de que tipo forem.

dezembro 04, 2006 10:44 da tarde  
Blogger Maria Manuel said...

*inofensivas

dezembro 04, 2006 10:50 da tarde  

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