17.1.07

P.165: Centenário_I (2)

Há muito quem pense que Miguel Torga cantou só a terra, e só a terra transmontana e duriense! Ainda que assim fora, mas não!



S. Pedro de Moel, 22 de Agosto de 1985

OCEANO
Poema sem sossego e sem remate,
Harpejo horizontal do coração do mundo,
Há quantos anos já que te recito
Obsessivamente,
A medir cada verso
Em cada onda!
E nunca te entendi!
És um mistério cósmico e sagrado.
Um mistério que logo pressenti
Quando pela primeira vez te vi,
Maravilhado,
A marginar um Portugal sonhado,
Tão perto e tão distante,
Sempre no mesmo instante
Morto e ressuscitado.

Diário XIV

Centenário_I (1)

4 Comments:

Blogger Maria Manuel said...

Publico este texto no dia em que se cumprem 12 anos sobre a morte do escritor.

Em certa medida acho que, tal como o mar, que ressuscita a cada onda, um escritor ressuscita a cada leitura, não da morte, que é só a do homem, mas da quietude que é a do livro fechado...

E, no momento em que escrevo isto, verto uma lágrima pelo meu Torga.

janeiro 17, 2007 12:12 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

A pele esbate-se num gesto final
liberto-me da escravidão dos dias
(somos todos escravos da vida)
Pairo simplesmente
lá fora o néon
circula com certeza matinal
caos de cimento e tédio

janeiro 17, 2007 9:33 da tarde  
Blogger Maria Manuel said...

Não confundo. Penso que, acabado o homem, fica o que o escritor escreveu, mas perde-se tudo o que havia ainda a escrever.

Informação a propósito.

janeiro 17, 2007 9:34 da tarde  
Blogger Carlos Sampaio said...

O copo nunca está cheio a 100%. Há sempre algo mais a acrescentar e quem não acredita nisso é miserável. No fim, fica o que foi feito.

Já disse aí para trás o que penso de Torga. O melhor será sempre cada qual ler.

janeiro 18, 2007 2:26 da tarde  

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