30.12.06
28.12.06
P. 152: Outras distâncias...
26.12.06
P.151: Crónica de uma arquitectura doente
Nas duas salas pequenas e sobreaquecidas acotovela-se gente, muita, atacada de diversos males. Mãos na cabeça ou na barriga, tosses, espirros, alguns gemidos disfarçados, choros, vómitos de crianças e cheiros de fraldas sujas, tudo na intimidade forçada de um espaço exíguo. Um dos compartimentos é escuro, interior; o outro iluminado, com grandes vidros de janelas que não abrem.Acomodo-me na cadeira azul forte, do lado iluminado. As instalações são novas, de paredes brancas, madeiras claras, mobiliário colorido, ar condicionado. Mas as condições são más. Se o espaço é pequeno, muito aquecido, sem arejamento e se destina a muita gente doente, parece-me a mim que os únicos beneficiados são os vírus que cada um transporta, com perigo de contaminação dos restantes. Mexo-me, na cadeira, um pouco inquieta já não pelo mal que aqui me traz, mas pelos que poderei daqui levar… É um serviço de urgência.
Espero um pouco mais de uma hora. Dentro, onde uma médica me atende sem nunca me olhar e com uma comunicação monossilábica mínima, respira-se melhor.
E, com menos aquecimento e acabamentos menos modernos, é assim também o Centro de Saúde que frequento, onde as salas de espera são interiores, os gabinetes dos médicos pequenas celas de condenados, onde crescem cogumelos na humidade dos chãos e paredes, e onde os corredores de acesso e gabinetes de enfermagem são impraticáveis para utentes em cadeira de rodas, para enumerar só alguns dos seus defeitos visíveis! Foi construído há uma dúzia de anos…
Quem serão os responsáveis pela concepção destes espaços?! Que orientações técnicas recebem?! Quem lhes aprova os projectos?!!... Como dizia há muitos anos um homem do povo, a propósito de casos semelhantes, numa carta saborosa e cheia de sabedoria que enviou ao meu pai, são mentes invadidas pela neblina...! É isso mesmo, sr. Presidente da Junta. Eu direi mesmo que há por aí muita gente a sofrer de nevoeiro mental cerrado!
24.12.06
23.12.06
P.149: Azul noite
22.12.06
P.148: Feira de Natal
A época é de Natal, em princípio pacífica e solidária. Mas os hábitos das pessoas vão num sentido tal, que tornam a vida nestes dias num inferno para todos! Circular de carro em certas zonas dos centros urbanos é agora ainda mais difícil, fazer um simples abastecimento de víveres para a semana pode tornar-se num teste à paciência! A crise talvez tenha reduzido o volume e o custo das compras, mas não diminuiu a azáfama. Até talvez tenha tido o efeito perverso de obrigar a muitas procuras, para fazer coincidir o presente “ideal” com o preço que é possível pagar. A observação dos clientes numa grande loja, mal olhando os produtos antes de verificar o preço, fez-me lembrar os tempos jovens em que as saídas para jantar fora implicavam conferir na ementa, não os pratos, mas os preços, ou pelo menos estes antes daqueles! :-)20.12.06
P.147: Objectos desusados

A mensagem deste, uma relíquia familiar que conservo com gosto por a moldura ter sido cinzelada por um tio avô, condiz bem com o que foi objectivo de vida do seu autor e da sua mulher. Tempos difíceis. Poupanças diárias, ao tostão, e muito trabalho, para construírem a tal casa que veio a ser mais mundo dela do que dos dois, mas que antes de ser morada foi sonho de ambos. Vinham longe, ainda, os tempos de comprar hipotecando o futuro. E por isso foi ao próprio corpo, à vida, que foram buscar o crédito para essa vontade. Gente de fibra!
17.12.06
P.146: Eco da imprensa de hoje
Das dez grandes tendências previsíveis para o próximo ano na área das tecnologias da informação, resultado de estudos realizados pela empresa de pesquisa e consultoria Gartner, o Público escolheu duas para apresentar no número de hoje: o fim do boom dos blogues e o passo de gigante, agora começado e com continuação nos próximos cinco anos, a caminho da “localização” de todos nós, população com telemóvel, através da Internet móvel.Sobre o primeiro assunto, parece que o pico deverá ainda ser atingido no primeiro semestre de 2007, é nessa altura que o número de bloggers ascenderá aos 100 milhões! Depois, razões que por certo já todos nós, que andamos por aqui, constatámos, deverão ditar um número crescente de abandonos: preguiça, desinteresse, mudanças de vida, mudanças para outros sítios, respostas a novos desafios. E, dessa forma, vão ficando por aí, poluindo também este espaço, milhares de páginas "sozinhas", à deriva…
16.12.06
P.145: Constatação

Era um hábito, talvez só de cidade de província. No bom tempo, depois dos mil e um afazeres da casa, vinha-se até à varanda, apanhar ar, um pouco de frescura, conversar e ver quem passava! Era coisa de mulheres. Os homens, se vinham, não tardavam e preferiam fazer a mesmíssima coisa caminhando em grupos pelas ruas, estacando a espaços, e obrigando os demais a esperas, para com maior veemência de gestos sublinharem a importância do narrado!
Depois houve o tempo, menos tempo, de ali alinharmos três gerações. E, quando ficámos só duas, já tínhamos perdido o hábito de ir à varanda!... (Não tinha tomado verdadeiramente consciência desta perda até quinta-feira passada, quando a propósito da palavra curiosidade, em jogo no Fotodicionário, alguém representou a ideia dessa maneira). Razões? De tempo, dos hábitos, da própria cidade transformada…
É mais uma recordação nostálgica.
15.12.06
P.144: Das três às cinco...

Roupas e rapariguinhas do shopping
Vem a gente de um frio de rachar no exterior e, mesmo deixando os agasalhos maiores no carro, mal entra no shopping, começa a suar. Nas lojas a coisa piora.
14.12.06
P.143: Luzes da ribalta!
A propósito de mulheres que se sujeitam a exibir publicamente os papéis deploráveis que desempenharam junto de homens públicos, para os encalacrarem, ganharem visibilidade e algo mais que as sustente com luxo, enquanto não serenar o receio de outros homens dispostos a pagar a companhia – foram só três dias de abertura de telejornais! – lembrei o caso Bill Clinton/Mónica Lewinsky. No seu tempo, fui “obrigada” a seguir os confrangedores pormenores confessionais que inequivocamente exibiram, ao meu olhar atónito e desiludido, a pequenez do homem! Não só ele, Clinton, um político razoavelmente bom, figura simpática apesar de todos os apesares, mas todo o homem que, por um broche, não sei se bom se mau, e assento no poder, aceita, sem provavelmente pensar, correr grandes riscos e fazer figuras deploráveis! Ao menos, que o descuidado dirigente perca alguma da sua descarada fleuma bronca! Dava-se por bem empregue o sacrifício de ver a delambida Carolina sorrindo triste e repetidamente, assinando o seu best seller…!
P.142: Receita para deixar de fumar
Dificuldade: grande - Tempo: vários dias
Ingredientes:
- 1 maço de cigarros
- 1 isqueiro
- 1 calendário
- 1 caneta verde esperança ou vermelho proibitivo
- guloseimas a gosto
- petiscos q. b.
Toma-se a decisão. Abastece-se previamente o frigorífico e o armário das guloseimas.
Compra-se o maço de cigarros e guarda-se junto ao isqueiro, sempre à mão.
Enche-se o dia de actividades e, nos intervalos, petisca-se qualquer coisa ou adoça-se o paladar. Olha-se o maço sem abrir. Suspira-se muito e, antes de ir dormir, marca-se orgulhosamente o dia com uma bolinha de cor no calendário.
Repete-se a dose.
Ao primeiro esquecimento do calendário, está pronto!

Nota: o calendário deve guardar-se em lugar fresco e seco, para recordar a dificuldade da receita.
13.12.06
12.12.06
P.140: Crónica de um Natal antecipado!
Por razões particulares, o Natal este ano talvez seja diferente. E talvez por isso, deu-me para antecipar reflexões e folhear velhas crónicas conhecidas à procura de passagens que, certo e sabido, me fazem chorar. Não há masoquismo algum nesta procura. Chorar é algo que faço terapeuticamente, com regularidade. E menos custa ainda, se às lágrimas das saudades irreparáveis se vêm juntar este ano algumas de muita alegria!11.12.06
P.139: Amostra
Local de trabalho. Sete mulheres em torno da mesa. Fala-se de cansaços, de depressões, de psiquiatras. Três tomam regularmente comprimidos para dormir e duas tomam-nos com frequência. Todas já tomaram calmantes ou anti-depressivos. Há uma que vai fazer o desmame no mês que vem, outra a quem basta ter comprimidos na carteira para usar em SOS. Três casadas. Uma divorciada de longa data. Uma solteira de sempre. Duas em fase de separação. São estas as regulares no psiquiatra. O mesmo, porque a primeira a ser abandonada o indicou à outra. A manhã vai a meio. O trabalho a um terço. O ar em torno da mesa é de normalidade. Não tarda todas estarão de novo no cumprimento da sua função!...10.12.06
P.138: DIREITOS HUMANOS

Desliguei o computador, cansada dos números e das histórias.
Como todo o humano que sobrevive, divido o ano entre o lembrar e o esquecer, entre saber e ignorar… De que outra forma?
Mas quando se aproxima o dia e é preciso trabalhar sobre a data, encher de coragem e deixar entrar por atacado esse pestilento mundo dos atentados, não há como não desacreditar da condição humana!
Cerro as pálpebras e bailam tristemente nos meus olhos palavras, rostos, casos de miséria e desespero…
9.12.06
8.12.06
P.136: Marginando o texto

Li As Pequenas Memórias de José Saramago e, passando por cima da problemática que rodeia estas obras de cariz autobiográfico, como o saber – e raramente se sabe, mesmo quando o autor o diz… – até que ponto há ficção na reconstrução da identidade, registo alguns aspectos que achei curiosos.
Na verdade eu também tive os meus toques de dislexia, ou algo que se lhe parecia (…) Por exemplo embirrei que a palavra sacerdote deveria ler-se saquerdote (…) Uma outra que me vinha retorcida (isto são histórias da época da escola primária) era a palavra sacavenense. Além de designar um natural de Sacavém, povoação hoje engolida pelo dragão insaciável em que Lisboa se tornou, era também o nome de um clube de futebol (…) E como a pronunciava eu então? De forma absolutamente chocante que escandalizava quem me ouvia: sacanavense. Ainda recordo o meu alívio quando fui capaz, finalmente, de inverter as posições das mal-educadas sílabas.
No meu caso, as vítimas foram as palavras algures e transeuntes, que aí até aos nove ou dez anos pronunciei, convencida de que lia bem, alugueres e transuentes…! A diferença está em que não as lia em Cartilhas, nem em números do Século, mas em livros de aventuras escritos por Enid Blyton…
7.12.06
P.135: Adivinha!
Um palpite... sobre o que esta imagem representa!...

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Complemento (em 9.12.06)
Estas subidas a pique, as agulhas, os cumes, novas escarpas, são somente linhas e pontos de um gráfico que registou as visitas a este espaço, no último mês! :-)
Do vale fundo em que se encontrava nos tempos do esquecimento, subiu já alturas consideráveis…
Desculpem um certo ar de comprazimento que esta publicação possa ter. Não rodeio a questão: as visitas agradam-me. Sobretudo se acontecem assim, sem exageros grandes, sem grandes operações de charme.

(Irene, minha única apostadora: desculpa se a solução do enigma é bem menos poética do que a tua proposta…! Fica a riqueza da tua imaginação. Obrigada.)
6.12.06
P.134: Outras maravilhas!
As cores e a garridice da Ribeira do Porto!
Gravuras rupestres de Foz Côa, um milagre de conservação.Uma viagem no tempo. Uma observação comovida e respeitosa.
As árvores no Outono! Festival de cor. Variação. Festa de despedida...
Céu, nuvens, a terra vista do ar!...
5.12.06
4.12.06
P.132: Atrasos e bacorada!
Ninguém me contou, fui eu mesma que ouvi: o nosso actual Ministro da Saúde não considera relevante a pontualidade dos médicos, o importante, segundo diz, é que “no fim, o serviço apareça feito”! E como se a afirmação não fosse suficientemente elucidativa e aberrante, ainda reforçou com um exemplo do hospital em que se encontrava, afirmando que às 8h00 da manhã de hoje só dois médicos, dos muitos escalonados, se encontravam já no serviço… Não correrei muito perigo de que os meus alunos tenham ouvido e atentado nestas palavras do senhor governante, mas é sempre com preocupação que vejo gente responsável desfazer, com o que me parecem maus exemplos e/ou afirmações gratuitas, aquilo que tanto nos custa a construir.
É que na escola, para além das matérias de cada disciplina, ensinam-se, promovem-se e avaliam-se atitudes e valores, dos quais a assiduidade e pontualidade fazem parte integrante e importante. Batalhamos nós para que os meninos apressem o passo para a aula, afirmamos-lhes que a presença regular e pontual é uma das qualidades importantes, com grande visibilidade e valorização no mercado do trabalho, onde mais tarde ou mais cedo irão ingressar, e vem um alto responsável da nação borrar-nos completamente a escrita!
3.12.06
P.131: Ser jovem em Portugal.
Aqui está um estudo, com resultados apresentados hoje, que não causa grandes surpresas, pelo menos naqueles aspectos mais ventilados, já que não o conheço na íntegra para poder afirmar que tudo estava já visto e era sobejamente conhecido.Mas convém não ceder a angústias e, sobretudo, não abusar de anti-depressivos, sob pena de nos tornarmos nós próprios instáveis, precários, e deixarmos afundar o nosso barco…













