Página 80: TEATRO_ORTAET

A páginas tantas...
«Riram ambos. Depois Carlos, outra vez sério, deu a sua teoria da vida, a teoria definitiva que ele deduzira da experiência e que agora o governava. Era o fatalismo muçulmano. Nada desejar e nada recear... Não se abandonar a uma esperança — nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge, com a tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e de dias suaves. E, nesta placidez, deixar esse pedaço de matéria organizada que se chama o Eu ir-se deteriorando e decompondo até reentrar e se perder no infinito Universo… Sobretudo não ter apetites. E, mais que tudo, não ter contrariedades.
Ega, em suma, concordava. Do que ele principalmente se convencera, nesses estreitos anos de vida, era da inutilidade de todo o esforço. Não valia a pena dar um passo para alcançar coisa alguma na Terra — porque tudo se resolve, como já ensinara o sábio do Ecclesiastes, em desilusão e poeira».
Eça de Queirós, Os Maias - Episódios da Vida Romântica
Pronto, ok. Eu sei que este desafio já tem barbas, que há prazos razoáveis para anelar os elos à corrente.
Mas que queres? Distraí-me. Andei perdida em Carnavais que não ficarão para a história. E agora aqui estou, penitente e arrependida, a empenhar-me para que mais valha tarde que nunca. E olha que não é pequena tarefa, porque já de si o tema é paradoxal se pensarmos que o que é hábito não nos é estranho e que terei, portanto, que fazer o esforço de me olhar como a um outro para encontrar a bizarria…
Vejamos, pois…
Será, talvez, estranho… e, se não o for, é pelo menos hábito:
Este foi o anel solto com que a corrente já não contava…
por isso, fiquemos por aqui!
Estou perdoada?