5.5.07

P.247: O último dia

Se somos bons nos doces (ver p.246) – pelo menos a comê-los a coisa corre lindamente –, somos muito, mas mesmo muito maus no respeitante a prazos. Esta nossa indolência e balda, espécie de atracção fatal pelo último dia, parece até ser mal hereditário ou ensinamento passado de geração em geração! É como se fosse vantajoso e obrigatório esgotar todo o tempo concedido e só os tolos não o fizessem…! Depois, claro está, como os contratempos existem e geralmente se reservam justamente para a última hora – já é má vontade dos contratempos, não aparecerem em momento mais oportuno! – conta-se ainda com o pedidozinho, a benevolenciazinha… são só mais umas horinhas, um dia, uma semana… Que é isso?!

Por conta dessa balda vi eu ontem a minha secretária encher-se de trabalhos para corrigir no fim de semana e próximos longos e penosos dias. A tarefa estava marcada desde meados de Setembro e não havia tempo mínimo para a sua execução, apenas um prazo máximo que terminava precisamente, adivinhe-se… ontem. A dois dias do fim, um aluno aproximou-se da minha mesa lentamente com duas folhecas na mão e um ar de herói desta e da galáxia vizinha: fora o único a não esgotar completamente o prazo, queria recolher dividendos! Ontem, durante toda a manhã choveram os restantes e, já de regresso a casa, a meio caminho do carro, vem ainda ao meu encontro uma funcionária a quem uns quantos retardatários da ultimíssima hora haviam delegado a incumbência da entrega. Não exagero nada.

E assim, os meus digníssimos e pré-universitários alunos estão preparados para serem uns verdadeiros cidadãos portugueses, entregarem o seu I.R.S.zinho no último dia do prolongamento do prazo e fazerem bicha para a semanal aposta no Euromilhões…

4 Comments:

Blogger Belzebu said...

Apesar de jovens, são genuínos portugueses! É uma imagem de marca que já não nos deveria surpreender.

Saudações infernais!

maio 06, 2007 2:05 da manhã  
Blogger Irene Ermida said...

costumo usar alguns truques: no trabalho, antecipo dois dias o fim do prazo oficial; quando um dos convidados é retardatário, marco-lhe o jantar meia hora mais cedo do que aos restantes; e assim tento evitar surpresas de última hora...
mas embora tente, a sedução fatal da «última hora» é mais forte do que eu! nem te digo a hora em que submeti o meu irs por internet!

maio 06, 2007 7:40 da tarde  
Blogger Carlos Sampaio said...

Acho que, no fundo no fundo, isso tem um nome e esse nome é preguiça!

Enquanto o "fogo não chega ao..." acredita-se que "ainda há tempo", depois "ai Jesus!".

Mesmo as pessoas que não conseguem ser produtivos sem estarem em stress podiam gerar elas internamente o seu factor de stress, em vez de dependerem de uma condicionante externa.

Seja o que for, só se mobilizar quando a guilhotina está a cair não é medalha de mérito para ninguém, mesmo que consigam até terminar a tempo, no penúltimo segundo do prazo.

maio 07, 2007 8:51 da manhã  
Blogger A. Pinto Correia said...

É genético. Nada de novo, portanto.
Beijinhos e bom trabalho. Juro que o digo sem ironia.
Beijo

maio 07, 2007 5:08 da tarde  

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