P.415: Sobrevoando desconhecidos domínios
Uma das anedotas contadas em família como história verídica passada no Liceu da terra, é a de um aluno "cabulão" que, não sabendo sobre classificação de aves, respondeu ao professor de Ciências que a classe se compunha de pássaros passarinhos, passarões, aves de rapina e melros… A história suscitou sempre sorrisos, tanto pela sua ousadia, que a escola do tempo não era para estas brincadeiras, como pelo insólito pormenor dos melros no termo de uma classificação tão imprecisa.
Lembrei-me disto quando, há uns dias, soube de uma actividade de observação de aves num parque da minha cidade e nela me inscrevi. Pensei que, bem vistas as coisas, também para mim, tirante os melros, os canários, andorinhas, pombas e pouco mais, o passaredo se dividia quase só em tamanhos, chilreios e umas visões fugazes de cor.
Parecíamos um grupo de caçadores, substituídas as espingardas ao ombro por binóculos ao pescoço e a vontade de matar pela de ouvir e ver. As histórias dos observadores fervorosos pareceram-me, aliás, muito semelhantes às da caça: fixam dias e locais e quantidades e peças raras… E perdem-se em discursos emocionados sobre as suas façanhas!
Tantas vezes já palmilhei aqueles caminhos sem nada saber sobre estes seus habitantes ou visitantes sazonais! E quem não sabe é como quem não vê – diz o povo – e como quem não ouve, acrescento eu. É que a primeira percepção da ave, para quem se trata por tu com elas, faz-se quase sempre pela voz. Ouvir uma Toutinegra, um Melro e um Verdilhão e saber quem é quem, não se aprende na primeira lição… Mas tudo vai de começar.
O Guarda-rios foi o ilustre ausente mais procurado e entre os mais marcantes observados o Pisco-de-peito-ruivo e o Melro azul pela sua beleza, o Chapim-rabilongo pela sua graça, o Bico-de-lacre pelo exotismo e a Trepadeira-azul pelo curioso vaivém nos troncos das árvores.
(imagens "googleadas")
3 Comments:
E este país que é um verdadeiro paraíso para os observadores de passarada! Basta acordar de manhã, abrir a janela e observar as aves de rapina e os passarões, a comer os passarinhos!
Aquele abraço infernal!
Pois eu sou mosquito e tenho de me pôr a pau com os passaritos que logo me papam, mas eu gosto, gosto deles!
Tenho por aqui um melro que cantava ontem despudoradamente do alto dum pinheiro.
Que louco! E que lindo! Cantava para outro(a?) além, que bem ouvi, canta lindo e melodioso.
Quando passa aqui ou se espanta pelo quintal dá apenas uma gargalhada, mas regalo-me de o ouvir em serenatas no alto da sua morada!
Desta vez foi para mim que cheguei, tenho a certeza!
Ah...então EU VI uma pisco de peito ruivo;, e cantava tão bem!
Bjinho
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