P.414: Dois goles a duzentos paus!
Ontem, num telejornal das 20h, reportagem sobre cafés, bicas, cimbalinos. Em Portugal, é bem sabido, usa-se e abusa-se deles e é talvez dos hábitos mais difíceis de contentar quando nos ausentamos deste rectângulo onde a boa, aromática e encorpada bebida é vendida em qualquer canto e esquina com uma qualidade incomparável. Lá fora é mais raro e seguramente muito menos saboroso, excepção feita (e nem sempre…) ao espresso italiano.
Tudo a propósito dos preços, amplamente comparados na peça com os praticados por essa Europa mais próxima, para concluir que o nosso país se é de todos o que regista maior consumo, é também aquele onde se paga menos por cada chávena bebida. Até aqui, tudo bem, embora, devo dizer, 55 cêntimos em média por uma bica não me pareça nenhuma "barateza".
Mas a coisa não ficou por aí. Toda aquela pesquisa e explanação jornalística se destinava, afinal, a contextualizar um aviso e uma má notícia: a inevitabilidade e a iminência da subida de preços do café no nosso país, prevendo-se que chegue a 1 euro por xícara até ao fim do ano!
Neste ponto, como é de regra, a repórter foi ouvir os vendedores que, queixosos e compungidos, lá fizeram as tradicionais queixas sobre elevadíssimas subidas do custo da matéria-prima, diminuição drástica das margens de lucro e necessidade absoluta de que o consumidor assuma um encargo mais próximo do preço real do bem consumido…!
A mim custou-me bastante engolir aquela “desgraceira”. É que tenho um exemplo concreto e bem próximo que me mostra uma outra realidade. No meu local de trabalho há um bufete, uma máquina de café comme il faut e venda de bicas iguaizinhas às dos estabelecimentos comerciais excepto numa coisa: o preço. Há não muito tempo chegou a praticar-se o preço de 25 cêntimos, mas foi necessário baixá-lo por se estar a ultrapassar a pequena margem de lucro permitida em vendas nas escolas. Fixou-se nos 0,20€ e não dá prejuízo!
Que me digam que uma escola não tem as despesas de impostos e de pessoal de uma casa comercial, aceito-o com certeza. Agora, que 35 cêntimos de diferença não cheguem para cobrir esses extras de custos e ainda render benefícios já me custa muito a acreditar.
Possivelmente uma reportagem sobre o mesmo tema, daqui a uns dez anos, já não nos colocará na cauda dos preços, mas também não nos situará no topo dos consumos… É que os salários, esses, não há meio de nivelarem!
1 Comments:
É óbvio que algumas "reportagens" só o têm o título e não passam de matéria para preencher espaços.
Tens razão quanto ao preço. no jornal foi-nos dito pelo fornecedor que 25 cêntimos basta para pagar o café que consumimos. e é verdade.
entendo que num estabelecimento que tem como finalidade última, o lucro, o café possa custar um pouco mais. o preço actual parece-me bem. bolas, onde pára a nossa indignação?
Abraços
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