P.410: Do corpo
Não te importe, ó mortal, depois de morto
Desaparecer na curva do caminho.
Aqui és corpo; e injuriar o corpo
É pisar a sombra do divino.
Lúcida a carne, num fugaz milagre,
É de eternos assuntos a medida:
De ar, água, terra e fogo sumidade,
Lugar de amor onde se ganha a vida.
Se concorrem na alma embuste e danos,
O corpo em qualquer língua é verdadeiro.
P’ra que ao além não fie a Parca enganos,
Retrata-nos a morte em corpo inteiro.
Vem das estrelas o sangue que nos guia
E em amorosa perfeição na carne
Está toda a eternidade resumida.
Corpo! Sombra de deus. Simples verdade.
Desaparecer na curva do caminho.
Aqui és corpo; e injuriar o corpo
É pisar a sombra do divino.
Lúcida a carne, num fugaz milagre,
É de eternos assuntos a medida:
De ar, água, terra e fogo sumidade,
Lugar de amor onde se ganha a vida.
Se concorrem na alma embuste e danos,
O corpo em qualquer língua é verdadeiro.
P’ra que ao além não fie a Parca enganos,
Retrata-nos a morte em corpo inteiro.
Vem das estrelas o sangue que nos guia
E em amorosa perfeição na carne
Está toda a eternidade resumida.
Corpo! Sombra de deus. Simples verdade.
Natália Correia
Nem todo o corpo é carne… Não, nem todo.
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco…?
E o ventre, inconsistente como o lodo?...
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor… Nem todo o corpo é carne:
é também água, terra, vento, fogo…
É sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio
vulto da Primavera em pleno Outono…
Nem só de carne é feito esse presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!
David Mourão Ferreira
1 Comments:
Ficou belíssimo
o diálogo
tão mulher-ela
tão homem-ele
Ambos poetas
do corpo.
Bj
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