P.255: Centro de Estudos Islâmicos
Destaque para a notícia da inauguração, ontem, do Centro de Estudos Islâmicos, em Mértola.
Durante anos vivi ignorando a história dos séculos de permanência árabe no território que viria a ser o de Portugal. Durante anos ignorei o quanto essa minha ignorância tinha de responsabilidade oficial. A “narrativa histórica” dos meus anos de aluna não sumariava sequer esse tempo, elidia-o por trás de um “vieram os árabes”, “foram expulsos os mouros” e muito pouco mais, versando heranças agrícolas, matemáticas e linguísticas. E entretanto? Só mais tarde a interrogação se plantou na minha frente, como um ovo de Colombo de evidência insuspeitada. E, desde então, empreendi algumas procuras e fiz algumas descobertas de leiga interessada nestes sucessos.
Das visitas a locais do roteiro peninsular indispensável faltam-me Silves e Granada. Do já percorrido, ficaram em lugar especial na memória a bela Mértola, com a sua antiga mesquita e museu; e o pequeno Alcazar de Sevilha onde pude, há vários anos, experimentar o prazer de uma trégua contemplativa e fresca, numa indolência meridional evocativa.
Também Tavira tem vindo a fazer valer a importância do seu testemunho, com a abertura de um museu e a organização de passeio turístico alusivo.
Mas é a literatura desse período que, porventura, mais desconhecemos. E, no entanto, foi de grande riqueza, como o atestam nomes como Ibn Sâlih Al-Shantamarî (Faro, séc. XII), Ibn Bradun (Silves, sécs.XII-XIII), Al-Mu’tamid (Beja, séc. XI), Ibn ‘Abdûn (Évora, séc. XI).
Dos poucos poemas da época que possuo e conheço, transcrevo o que se segue, de que gosto pela sua beleza simples.
A partir de agora podem fazer-se estudos aprofundados sobre o tema, no inspirador cenário alentejano. Quem sabe um dia ainda troco esta traseira granítica de montanha pela planura branca e loura dessas terras mais a sul…!
Durante anos vivi ignorando a história dos séculos de permanência árabe no território que viria a ser o de Portugal. Durante anos ignorei o quanto essa minha ignorância tinha de responsabilidade oficial. A “narrativa histórica” dos meus anos de aluna não sumariava sequer esse tempo, elidia-o por trás de um “vieram os árabes”, “foram expulsos os mouros” e muito pouco mais, versando heranças agrícolas, matemáticas e linguísticas. E entretanto? Só mais tarde a interrogação se plantou na minha frente, como um ovo de Colombo de evidência insuspeitada. E, desde então, empreendi algumas procuras e fiz algumas descobertas de leiga interessada nestes sucessos.
Das visitas a locais do roteiro peninsular indispensável faltam-me Silves e Granada. Do já percorrido, ficaram em lugar especial na memória a bela Mértola, com a sua antiga mesquita e museu; e o pequeno Alcazar de Sevilha onde pude, há vários anos, experimentar o prazer de uma trégua contemplativa e fresca, numa indolência meridional evocativa.
Também Tavira tem vindo a fazer valer a importância do seu testemunho, com a abertura de um museu e a organização de passeio turístico alusivo.
Mas é a literatura desse período que, porventura, mais desconhecemos. E, no entanto, foi de grande riqueza, como o atestam nomes como Ibn Sâlih Al-Shantamarî (Faro, séc. XII), Ibn Bradun (Silves, sécs.XII-XIII), Al-Mu’tamid (Beja, séc. XI), Ibn ‘Abdûn (Évora, séc. XI).
Dos poucos poemas da época que possuo e conheço, transcrevo o que se segue, de que gosto pela sua beleza simples.
A partir de agora podem fazer-se estudos aprofundados sobre o tema, no inspirador cenário alentejano. Quem sabe um dia ainda troco esta traseira granítica de montanha pela planura branca e loura dessas terras mais a sul…!
Só eu sei quanto me dói a separação!
Na minha nostalgia, fico desterrado
à míngua de encontrar consolação.
À pena no papel escrever não é dado
sem que a lágrima trace, caindo teimosa,
linhas de amor na página da face.
Se o meu grande orgulho não obstasse
iria ver-te à noite: orvalho apaixonado
de visita às pétalas de rosa.
Na minha nostalgia, fico desterrado
à míngua de encontrar consolação.
À pena no papel escrever não é dado
sem que a lágrima trace, caindo teimosa,
linhas de amor na página da face.
Se o meu grande orgulho não obstasse
iria ver-te à noite: orvalho apaixonado
de visita às pétalas de rosa.
Al-Mu’tamid
(Fotografias de Mértola de Carlos Sampaio)
5 Comments:
Olá.
Neste momento, só dizer que andei por aqui.
E desejo-te felicidades.
Manuel
Riquíssimo apontamento!
Essa noção, de pouco saber sobre o muito que há a saber, notei-a, de leve, numa ocasião em que frequentei um curso livre de Árabe, na mesquita de Lisboa. Experiência muito agradável, avanço já, pela mistura de gentes que a ali acorria, provinda de variadíssimas áreas e pelas mais diversas razões. A leitura deste post acicatou-o novamente. E deu vontade de percorrer esse belíssimo Alentejo. As fotos, do Carlos, ao primeiro olhar "li-as" únidas, parecendo formar apenas uma, com o edifício de onde se veria a paisagem...
Não conheço nenhum dos nomes; mas saio daqui com vontade de os saber.
E o poema é singelo, sim. Créditos também a quem o traduziu, mantendo-o bonito. Gostei de tudo! :-)
Ah, mas já me esquecia de te deixar o recado: vim aqui para te dizer que foste "memetizada". Sabes porquê? Porque sei que vai valer a pena!
Um abraço.
Esse poema ficaria perfeitamente enquadrado em qualquer fado.
... e morria logo ali! Asfixiada pela vastidão da planura a perder de vista.
Veja
'Histoire des Mussulmans d'Espagne'
de Reinhart Dozy.
Com as seguintes recomendações
1 não leia uma tradução (há uma edição fac-similada muito bonita; depois digo... não tenho comigo)
2 não se assuste com o estilo - estávamos no fim de séc XIX; a História era 'outra'
muito bom que estejamos a acordar para o riquíssimo legado islâmico, mourisco de Portugal!
boa!
visita:
www.algharb-alandaluz.blogspot.com
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