13.5.08

P.431: Conjugalando...?



Um dia o meu velho professor de Latim, que já tinha sido colega da minha avó e professor da minha mãe, chegou à nossa sala com a sua pose fleumática alterada. Tinham-lhe atribuído, nesse ano, uma turma de 8º de Português dos novos Cursos Unificados e os miúdos andavam a dar cabo do seu resto de paciência cansada. Nesse dia a piada fora o Complemento Circunstancial de Companhia: quando o prof se saíra com aquela novidade gramatical, os putos rebentaram em gargalhadas que vieram embater na superfície aparentemente impermeável da sua pose professoral. Mas não. Algo penetrou e perturbou um equilíbrio de muitos anos daquele velho mestre! A tal ponto que concedeu a si próprio e a nós, reles alunos do ensino secundário, um desabafo: Vejam lá que…! E todo ele transpirava indignação e admiração.
Lembrei-me disto quando os meus alunos resolveram achar imensa piada à explicação de um processo de formação de neologismos, novas palavras que podem formar-se por amálgama, ou seja, com junção de palavras truncadas. Quando cheguei ao “truncadas”, então, foi como um rastilho de riso pela sala toda… vá-se lá saber porquê! Impossível, porém, explorar um texto de Mia Couto, com as suas femeameninas, os seus temedrosos, barulhosos e transcoloridos..., sem abordar este tema linguístico.
Mas estas coisas ficam-me cá dentro, como um ritmo de música que se imprime na memória mesmo à revelia da nossa vontade. E, por isso, quando procurava fotografias e passei por esta de um par de cegonhas em Alcácer do Sal, pensei na amálgama, no Mia Couto, nas palavras truncadas, no meu velho professor de Latim, nos meus jovens alunos prontos a gozar uma piada, nos complementos circunstanciais ou outros de companhia e… interroguei-me: conjugalando? :-))