30.3.07

P.218: Feitiços e feiticeiros

A escola pública não pratica o “direito de admissão” e por isso há por lá um pouco de tudo. O ensino das competências sociais, como agora se chama, pomposamente, à boa educação é uma preocupação que cresce na medida em que aumenta, de forma visível e gritante, a falta delas. Já houve tempo em que esse ensino se fazia em casa, na família, e a escola se reservava para outras aprendizagens. Mas isso é passado. Hoje, como é do conhecimento geral, as famílias já não cumprem só por si esta tarefa, por razões múltiplas que alongariam este enunciado, e nalguns casos não a cumprem de todo, cabendo à escola substitui-las nesse papel.
Não vou explanar dificuldades nem tecer considerações sobre os prejuízos para outras aprendizagens para que a escola está/estava mais vocacionada.

Por vezes as pedagogias surgem inesperadamente de situações simples como a que está a acontecer com alunos meus, este ano. Constituem, justamente, um grupo que não primou pela exemplaridade escolar, se foi arrastando, envolvendo em complicações, até desembocar num percurso alternativo que lhe dará alguma qualificação profissional. Acontece que estes meninos-jovens, todos eles com um ou muitos “averbamentos no cadastro” estão a começar a ganhar alguma maturidade e faz parte da sua formação um estágio em escolas e A.T.L.’s, durante o qual devem tomar conta, animar e colaborar no ensino de crianças de Infantários e do 1ºCiclo. O problema é que a falta de competências sociais, é mal que grassa já entre esses miúdos pequenos que dantes eram os dóceis e principiantes alunos da “escola primária”… e aquilo que nós não conseguimos ensinar consistentemente aos nossos jovens estagiários, estão eles a aprendê-lo agora, sofrendo a indisciplina e a má educação na própria pele…!

Dos seus relatos já pudemos concluir várias coisas, entre elas que as piores situações acontecem com os filhos da comummente chamada gente bem, nomeadamente filhos de senhores professores e professores doutores da universidade local! São esses os que gritam que não fazem, que não querem, que tu não mandas nada aqui, que o pai disse que aquela actividade não tinha o mínimo interesse, que chamam nomes feios aos adultos…! E no A.T.L. particular, onde os educadores e professores estão porque não têm colocação noutro lugar, esta gente miúda vai mandando, como o consentimento de pais que não sabem sê-lo...
Seguramente que os nossos alunos estagiários vão aprender mais com esta experiência dura do que com todos os discursos e conselhos que lhes poderíamos dar, mas a mim não me sai já da ideia a perspectiva de ter estas pestes contaminantes, num futuro não muito longínquo, na minha sala de aula… e estes pais fora dela.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Maria! Vale mais um boneco que setecentas palavras... ça ce voit!


Mas
o qu'é qu'a gente faz?
Engole?

março 31, 2007 6:32 da tarde  

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