6.4.07

P.224: Tentações



A semana era de limpeza geral da casa e de intensa actividade na cozinha. Era essa a azáfama de que eu mais gostava. Os meus avós eram padrinhos de meio povo e havia que fazer folares e pães de ló para essa gente toda. Chamavam-se reforços para bater os ovos com açúcar e, com um bocado de sorte, lá me deixavam rapar os alguidares… Depois, estendiam-se pelas mesas, cobertos com guardanapos brancos, ou com uma toalha longa, perfumando os ares da casa, enquanto os afilhados não vinham à sa’bença, deus t’ abençoe, meu filho.
Por cisma da minha avó, o que ficasse mais bonito, fofo e de aspecto apetitoso, havia de guardar-se para o sr. abade e seus acólitos, quando o Compasso passasse e todos fossem servidos do tradicional cálice de vinho fino.
Das amêndoas de açúcar nunca gostei muito e as de chocolate eram raras na altura.
Tudo o resto – visita Pascal, comunhões e crismas, missa, procissão – era supérfluo. A Páscoa valia pela lambarice. Agora, nem isso!

3 Comments:

Blogger M. said...

"Lambarice": nunca mais tinha ouvido esta palavra! Era a minha avó que a dizia quando eu era criança.

abril 06, 2007 11:49 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Tudo vale aquilo que em nós queremos que valha..se não pelo passado, que valha pelo futuro..

Maria, Feliz Páscoa..

um abraço

intruso

abril 07, 2007 4:57 da tarde  
Blogger Irene Ermida said...

Esta época sempre me irritou... começava no dia dos ramos com a obrigatoriedade de entregar o ramo à minha madrinha, que se sentia ofendida se não o recebesse! Continuava no dia da visita pascal que me obrigava a permanecer em casa toda a tarde!
E, por último, a obrigação mais penosa que cumpria simuladamente sob o olhar ameaçador de religiosidade da minha mãe: beijar a cruz!
Valia-me os «bolos podres» que ajudava a fazer à minha avó na véspera para me adoçar a boca!

abril 07, 2007 11:15 da tarde  

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